Nasceu na freguesia da Pena em Lisboa, a 24 de novembro de 1869, o segundo dos cinco filhos de Maria Inês Côrte-Real de Melo Fragoso (1842–1906), natural de Montemor-o-Novo, e de Inácio Maria Machado de Morais Carmona (1829–1903), natural de Chaves. Foi nesta cidade que passou parte da infância e completou o ensino primário. Filho e neto de generais do Exército, seguiu a tradição militar, ingressando no Colégio Militar, em 1882. Frequentou, depois, durante dois anos, a Escola Politécnica de Lisboa, e em 1890 entrou para a Escola do Exército, optando pela Cavalaria.[2][3]
Terminado o Curso de Cavalaria, foi colocado na Escola Prática de Equitação, em Vila Viçosa. Em 1894, já alferes, foi destacado para o Regimento de Cavalaria n.º 6, em Chaves, e em 1907 fez o tirocínio para a promoção ao posto de capitão, ficando colocado na Escola Prática de Cavalaria, em Torres Novas. Aderiu à Maçonaria em Chaves,[4] antes da implantação da República, sem progredir além do grau de aprendiz, acabando por abandonar a organização, em data incerta. Em outubro de 1910, cinco dias após a implantação da República, foi nomeado vogal da Comissão de Reorganização do Exército, e em 1913 assumiu funções como instrutor da Escola Central de Oficiais, em Mafra.[3]
Carreira militar e política
Foi instrutor da Escola Central de Oficiais (1913–1914); Director da Escola Prática de Cavalaria de Torres Novas (1918–1922); Comandante da IV Divisão situada em Évora (1922–1925); Secretário do ministro da Guerra no Governo de Pimenta de Castro, em 1915, tendo sido preso na sequência da queda do governo; Ministro da Guerra no governo de Ginestal Machado entre 15 de novembro e 18 de dezembro de 1923 e participou como promotor de Justiça em vários julgamentos militares resultantes das múltiplas revoltas que ocorreram na fase final da I República (assim aconteceu no caso dos implicados na "Noite Sangrenta", de 19 de outubro de 1921, e com os participantes na Revolta Outubrista).[5]
Logo a seguir à revolução desempenhou inúmeros cargos políticos, como o de Ministro dos Negócios Estrangeiros entre 3 de junho e 6 de julho e o de Ministro da Guerra entre 9 de julho e 16 de novembro de 1926, pasta que acumulou com a de presidente do Ministério — após o derrube do general Gomes da Costa — a partir de 9 de julho de 1926.
Presidência da República
Foi nomeado presidente da República em 16 de novembro de 1926.[1] Carmona era acusado de falta de carisma por algumas fações, e não deixou de garantir a estabilidade da Ditadura Militar, acabando por ser uma peça-chave na transição para o Estado Novo. Em 1928, a necessidade de legitimar o novo poder originou a convocação de eleições presidenciais. Único candidato, Carmona contou com o apoio do Partido Democrático e da União Liberal Republicana, tendo sido eleito no dia 25 de março de 1928, para um mandato de cinco anos, dando início ao período denominado Ditadura Nacional.[3]
Depois da eleição, Carmona escolheu para sua residência oficial o Palácio da Cidadela de Cascais, onde viveu com a sua família durante cerca de 20 anos, tendo o Palácio de Belém sido destinado a ocasiões formais, como receções a chefes de Estado.
Já na vigência da Constituição de 1933, o mandato presidencial foi alargado de cinco para sete anos, tendo sido sucessivamente reeleito em 1935, 1942 e 1949, tendo nesta eleição, como adversário, o general José Norton de Matos, do Movimento de Unidade Democrática, que acabou por desistir, por considerar não haver garantias de uma eleição isenta. Carmona ganhou a eleição para um novo mandato, não o tendo concluído por falecer no decurso do mesmo.
Durante décadas, a aliança Carmona/Salazar, e a imagem dos dois homens, foi um símbolo do regime. Foi com Carmona na Presidência da República que se concretizaram as grandes obras do Estado Novo, da propaganda às obras públicas: a Exposição Colonial do Porto (1934); a Exposição do Mundo Português (1940); a inauguração do Viaduto Duarte Pacheco, em Lisboa (1944); a inauguração do Estádio Nacional (1944); o Cortejo Histórico de Lisboa e as comemorações do VIII aniversário da tomada de Lisboa aos mouros (1947), ou a inauguração da Barragem de Castelo de Bode (1951), entre outras.
Óscar Carmona foi o primeiro chefe do estado português a visitar as colónias. Em 1938, visitou São Tomé e Príncipe e Angola, numa viagem que durou 51 dias. No ano seguinte, foi a vez de Cabo Verde e Moçambique, ocasião em que visitou também a então União Sul-Africana, estando em viagem durante três meses.[3]
Durante a sua presidência, recebeu várias personalidades, como Príncipe do Japão Nobuhito Takamatsu em 1930, o presidente polaco Marechal Józef Piłsudski também em 1930, a primeira dama argentina Eva Péron em 1947, o general Francisco Franco em 1949 e 1951 e o futuro presidente dos Estados Unidos da América, general Dwight Eisenhower.
Em 1946, constituiu-se a Junta Militar de Libertação Nacional, movimento oposicionista, liderado por José Mendes Cabeçadas, e que teve o apoio implícito de Óscar Carmona. O movimento colocou em marcha uma tentativa de golpe de Estado que abortou a 10 de abril de 1947. No julgamento dos envolvidos nesta insurreição, Carmona negou qualquer envolvimento. Num gesto apaziguador, o chefe do Governo concedeu ao general Óscar Carmona o bastão de marechal do exército, em maio do mesmo ano.
Morte
Faleceu a 18 de abril de 1951 na sua residência particular, no número 71 da Estrada da Torre, freguesia do Lumiar, em Lisboa, pelas 11 horas e 43 minutos, vítima de broncopneumonia.[2][6] Foi o segundo e último presidente da República a morrer no exercício do cargo.
Foram decretados 15 dias de luto nacional com funeral de estado,[7] o corpo esteve em câmara-ardente no edifício da Assembleia Nacional (atual Assembleia da República), tendo a urna seguido em procissão até o Mosteiro dos Jerónimos, onde foi realizada a missa fúnebre, à qual compareceram, além de inúmeras figuras militares e políticas portuguesas, o antigo rei de Itália, Humberto II, o antigo rei da Roménia, Carol II, o Conde de Barcelona, João de Bourbon, e vários diplomatas e embaixadores, tendo depois sido sepultado na Sala do Capítulo.[8] Em 1966 o seu corpo foi solenemente trasladado da Sala do Capítulo do Mosteiro dos Jerónimos para o Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, Lisboa, por ocasião da sua inauguração.[9] A cerimónia ocorreu no dia 5 de dezembro, conjuntamente com a trasladação de outras ilustres figuras portuguesas.
Foram impressas uma nota de 5 angolares e uma série de notas de 20$, 50$, 100$, 500$ e 1.000$ de Angola, bem como selos, com a sua imagem.
Vida pessoal
Casou-se, em 1914, em Lisboa, com Maria do Carmo Ferreira da Silva, natural de Chaves, formalizando uma união e relação conjugal que durava há vários anos e da qual haviam já nascido os três filhos do casal: Cesaltina (1897–1985); António (1900–1994) e Maria Inês (1903–2002). Naquela época, estava longe de ser uma situação habitual, nomeadamente em famílias tradicionais e conservadoras como a de Carmona.[3] É avô da pintora Menez (nome artístico de Maria Inês da Silva Carmona Ribeiro da Fonseca), tio-avô do ex-presidente da Câmara de Lisboa, Carmona Rodrigues e primo do chefe da Junta Militar de 1930 do Brasil, Augusto Tasso Fragoso.
↑Foi iniciado no triângulo N.º 1, de Chaves, entre 1894 e 1906, não tendo ultrapassado o grau de aprendiz. Abandonou a maçonaria, tendo, em 1935, assinado a lei que a ilegalizou em Portugal. Cf. MARQUES, A. H. de Oliveira.Dicionário de Maçonaria Portuguesa. Lisboa: Editorial Delta, 1986, vol I, col. 272-273.
↑«Presidentes - Estado novo - Óscar Carmona (Biografia)». Sítio do Museu da Presidência da República. Consultado em 24 de setembro de 2018. Cópia arquivada em 24 de setembro de 2018. e participa como promotor de Justiça em vários julgamentos militares resultantes das múltiplas revoltas que ocorrem na fase final da I República. Assim acontece no caso dos implicados na "Noite Sangrenta", de 19 de Outubro de 1921, e com os participantes na Revolta Outubrista.