Em dezembro de 1640, com a coroação de D. João, Duque de Bragança, que marcou a Restauração da Independência portuguesa, os colonos temiam que Portugal destruísse essa fonte de riqueza, impedindo o trânsito livre de mercadorias e proibindo o aprisionamento e a venda de índios capturados em incursões no sertão, uma vez que, era Portugal que obtinha lucros com a exploração do tráfico humano africano. A aclamação do duque de Bragança como novo rei de Portugal e sua nova política representava um potencial duro golpe para os comerciantes da colônia e castelhanos estabelecidos há muito em São Paulo, cuja economia assentava então na mão de obra escrava indígena.[3]
A revolta
Querendo manter a autonomia da cidade, algumas elites locais auto-proposeram-se a escolher um rei local, convencendo demais potenciais revoltantes de que poder-se-iam recusar a reconhecer o novo rei português, já que ainda não lhe haviam jurado obediência, e que os da colônia ali sediados tinham qualidades pessoais que os habilitavam para maiores impérios, que a vantajosa localização da cidade e o controle que tinham sobre milhares de indígenas os manteriam a salvo.[3]
Escolheram para rei Amador Bueno da Ribeira (que provavelmente viveu entre 1584 e 1649), filho de pai espanhol sevilhano e Maria, uma brasileira de pai portuense e mãe tupi-portuguesa. Amador era um próspero local, proprietário de terras, Capitão-mor e Ouvidor.[1][4]
Amador Bueno, com ligações pessoais tanto à fidalguia espanhola como portuguesa,[3] segundo Gaspar da Madre de Deus terá contraposto à sua aclamação dizendo "viva o Senhor D. João IV, nosso Rei e Senhor", sendo o certo é que terá rejeitado a proposta, temente das suas consequências. [carece de fontes?] Porém, depois de intensas negociações os castelhanos e apoiadores da proposta tiveram garantias de que seus negócios não seriam afetados por Portugal, e assim declararam e prestaram juramento ao rei D. João IV.[3]
Desfecho
O gesto acabou não tendo consequências sérias, pois São Paulo era uma região marginalizada economicamente e os castelhanos não tinham condições de iniciar uma luta contra Portugal sem apoio de Madrid. O episódio histórico serviu, entretanto, para demonstrar o descontentamento de certos grupos paulistas com a dominação portuguesa.
Fontes
Há poucas fontes relativas ao episódio.[5] O principal relato conhecido é o de Frei Gaspar da Madre de Deus, "Memórias para a História da Capitania de São Vicente".[6] Para Monteiro, a questão indígena foi o motivo básico das ações do movimento.[7] Entretanto, outros historiadores têm interpretação distinta. Afonso d'Escragnolle Taunay, nos Ensaios Paulistas, diz à página 631:
↑ abRodrigo Bentes Monteiro (12 de setembro de 2007). «O rei de São Paulo». Revista de História da Biblioteca Nacional. Consultado em 18 de setembro de 2014. Arquivado do original em 4 de julho de 2014
Bastos, Pedro Ivo de Assis. História do Brasil. São Paulo: Editora Moderna, [AAAA].
Holanda, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986.
Madre de Deus, Frei Gaspar da. Memórias para a História da Capitania de São Vicente. São Paulo/Belo Horizonte: EDUSP/Itatiaia, 1975.
Monteiro, John Manuel. Negros da Terra. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.
Monteiro, Rodrigo Bentes. A rochela do Brasil: São Paulo e a aclamação de Amador Bueno como espelho da realeza portuguesa. São Paulo: [s.n.], 1999. 21-44 p.
Taunay, Afonso d'Escragnolle. O Epos bandeirante e São Paulo Vila e Cidade. São Paulo: Editoria Anhembi, 1958. '
Veiga, Edison (2021). «Aclamação de Amador Bueno: como São Paulo quase teve um rei em 1641». TAB. São Paulo: [s.n.]A referência emprega parâmetros obsoletos |Título= (ajuda)