O Boi Caprichoso, cujo nome completo em razão social é Associação Cultural Boi-Bumbá Caprichoso, é uma das duas agremiações culturais que competem no Festival Folclórico de Parintins, um dos mais importantes festivais populares e culturais do Brasil. [3] As cores oficiais do Caprichoso são o azul e o branco, embora seja conhecido como "touro negro" por conta da sua representação ser um touro de pelos pretos, possuindo este uma estrela azulada na testa, sendo esta o seu símbolo maior.
História
Era 1913 quando a Parintins antiga viu nascer nos terreiros úmidos do “Reduto do Esconde”, pelas bandas do Urubuzal, o Boi Caprichoso. Nascido das mãos calejadas de Seu Roque Cid e seus irmãos, Antônio Cid, Beatriz Cid e Pedro Cid, naturais de Crato, no Ceará. O mais velho, Pedro Cid, resolve ficar em Belém, precisava de trabalho urgentemente. Os outros, Roque Cid e Antônio Cid, seguem para Manaus. Aportando em Parintins, saltam e resolvem ficar. O ano era 1913, os Cid ainda não haviam concretizado todos os seus sonhos de prosperar na nova terra e resolvem que vão retornar às suas origens. Fala-lhes sobre um boi de nome Caprichoso que assistira em Manaus, na Praça 14 de Janeiro, contou-lhes como foi sua evolução: toadas, desafios e animação. Os irmãos Cid enchem-se de coragem e no dia 20 de outubro de 1913, juntamente com outros amigos e a promessa a São João foi cumprida: nasce o boi Caprichoso no local conhecido como Esconde, hoje a Travessa Sá Peixoto.[4]
Assim, desde então, de couro negro e luzidio, o boi Caprichoso saiu às ruas pela primeira vez, demarcando seu território azulado, brincado pelas ruas de Parintins, sob as luzes de lamparinas.[5]
O boi brincava, dançando estimulado pela cantoria do Amo e a euforia dos brincantes em número reduzido e lá se iam ao som da marujada de guerra, entoando seus desafios, incentivados pelos torcedores.
De vez em quando, uma parada para o ritual do tira a língua. O boi morria, atirado por pai Francisco para satisfazer o desejo de Mãe Catirina. Sua língua era retirada e vendida ao dono da casa. Assim, angariavam fundos para os festejos da morte do boi quando encerravam os folguedos juninos.[6]
Nascido das mãos de gente simples, logo ganha a simpatia de muitos, tornando-se assim, o presente do povo: pescadores, lavadeiras, pedreiros, compadres e comadres. Eram os seus primeiros brincantes.[7]
De lá para cá, o Boi Caprichoso ganhou os quintais e as ruas, sempre brincando e alegrando gente pobre, negra, indígena e ribeirinha, refletida na estrela azul e branca da testa do Boi Negro da Ilha, lindo e popular. Sob lamparinas de Seu Lioca e cumprimento da promessa junina, fortalecia-se, aos poucos, uma festança popular que, ao longo das gerações, permitiu que os parintinenses sonhassem outros futuros, tecidos por meio dos saberes e da sensibilidade de sua gente cabocla, energizada na utopia e na busca de uma imaginada revolução oriunda desde nossa ancestralidade. Os artistas populares, com suas esculturas superlativas, ganharam o Brasil e o mundo, tornando o Boi Caprichoso, os mais aguerridos lutadores da cultura parintinense.[8][9][10]
Em metamorfose ao ritmo tradicional e o ambiente do folguedo em espetáculo capaz de mobilizar multidões e de colocar em cena a louvação à Mãe Natureza, ao passo em que se denunciam as violações dos direitos dos povos da floresta. Valorizando a história de tantas memórias e camadas, diversas em etnias, gêneros, religiões e orientações sexuais. As ruas são galerias vivas de uma arte popular a nutrir e expandir a cultura nacional. Semeando arte em reinvenções permanentes, refazendo identidades, emoldurando ancestralidades com as demandas atuais que brotam da gente.
O Caprichoso é o bumbá que permanece se nutrindo em mais de cem anos, nos batuques libertários dos quilombos, em meio a marchas e acampamentos de povos originários, no suor de artesãos locais e nas expressividades dos que ousaram criar no meio da Amazônia, as estruturas gigantescas que que foram nomeadas nos saberes-fazeres de ousadia.
Este boi segue sustentando, em mais de 50 edições do Festival Folclórico, com os artistas do Boi-Bumbá Caprichoso, a função máxima da festa que é bradar a todos os cantos a luta dos homens e das mulheres da floresta, transformando os anseios e sonhos do seu povo em luta: luta em poesia na chama viva da cultura popular do Boi Negro de Parintins.
A partir de 1982, o Boi-Bumbá Caprichoso transforma-se em uma associação, alterando seu formato de gestão. Os antigos proprietários transferem o controle para presidentes eleitos com mandatos específicos, auxiliados por uma diretoria mais ampla. Odinéa Andrade registra a primeira assembleia em 20 de março de 1982, no Salão Nobre do Colégio Nossa Senhora do Carmo. Nesse momento, organizam o primeiro quadro de sócios, e em breve, o Caprichoso adquire um curral, um espaço físico para atividades sociais, ensaios e parte da preparação para as apresentações no Festival.
Ao longo de sua existência, o Caprichoso ocupou nove Currais (sedes), a cada novo dono o boi se instalou em diferentes locais, numa caminhada pelos quatro cantos da cidade, originando-se daí a sua fama de "Boi de Parintins". A partir de 1981, quando o Caprichoso deixa de ter um dono e passa a ser administrado por uma diretoria, se instala definitivamente em seu curral na Rua Gomes de Castro, que recebeu o nome de Zeca Xibelão em homenagem a seu icônico tuxaua. [1]
Dono
Curral
Roque Cid (1913 - 1918)
Av. Sá Peixoto
Emídio Vieira (1918-1931)
Av. Rio Branco
Pedro Cid (1932-1942)
Av. Sá Peixoto
Antônio Boboí (1943)
Av. João Meireles
Nascimento Cid (1944 - 1947)
Beco Castelo Branco
Luiz Gonzaga (1948 - 1963)
Av. Rio Branco
Nilo Gama (1964)
Av. Rio Branco e Furtado Belém
Ervino Leocádio (1965 - 1967)
Parananema e Travessa Cordovil
Luiz Pereira (1968 - 1981)
Travessa Cordovil
Títulos
O primeiro título conquistado pelo Boi Caprichoso foi em 1969, na segunda edição do Festival Folclórico de Parintins em que houve a disputa entre as duas agremiações folclóricas. Na década de 1970, ganhou os festivais de 1972, 1974, e um tetracampeonato de 1976 a 1979. No ano de 1978, a Praça das Castanholeiras foi escolhido o local das disputas, o adversário alegou que o local era inapropriado e abandonou a disputa tornando o Caprichoso Tricampeão. Porém, o adversário também contabiliza o ano de 1978 como título em sua galeria, porque naquela época também havia outras disputas simultâneas e em uma delas acabaram ganhando.
Na década de 1980, considerada por muitos torcedores como "A Década Perdida", fato este que foi relembrado até mesmo pelo Amo do Boi, Edílson Santana, no Festival de 2013, o Caprichoso venceu os festivais de 1985 e 1987. Em 1982, o Boi Caprichoso decidiu não participar no festival, alegando que a disputa seria injusta, dado o tempo restado para a confecção de um boi que pudesse competir à altura, já que o boi contrario teria recebido a verba muito antes.
A década de 1990 representou um dos melhores momentos da história do Boi Caprichoso. De 1990 a 1999, ganhou seis dos dez festivais disputados, tendo faturado um tricampeonato (1994-1996) na época em que a festa de Parintins ganhava o Brasil e o mundo. Teria conquistado o seu tetracampeonato em 1997, levando em consideração apenas a soma dos pontos dados pelos jurados à apresentação na arena. A derrota, porém, adveio de uma penalidade imposta pelos jurados ao apresentador Gil Gonçalves. No entanto, o "Touro Negro" deu a volta por cima sagrando-se campeão no ano seguinte, em 1998 - uma conquista indiscutível em que um dos fatos mais marcantes foi o cantor Arlindo Júnior ter ocupado o posto de apresentador e levantador de toadas ao mesmo tempo, e ainda ter vencido nos dois itens, repetindo o feito de Paulinho Faria, que também venceu em ambos os itens em 1991 e 1993.
Em 2000, protagonizou com o boi contrário o primeiro empate da história do Festival de Parintins em uma apuração controversa. Ainda nessa década, faturou o festival de 2003 e um bicampeonato (2007 e 2008). De 2010 até hoje, o Boi Caprichoso tem protagonizado disputas equilibradas com o boi contrário. Foi campeão em 2010, 2012, 2015 (ano do cinquentenário do festival) e Bicampeão nos anos de 2017 e 2018, além de ser tricampeão pela segunda vez em sua história (2022-2024)
1 Em 2000 houve o primeiro e único empate entre os dois bois.
Itens que concorrem no Festival: Bloco A - Comum/Musical
Levantador de Toadas
O levantador de toadas, com sua voz afinada e potente, tem a missão de entoar as toadas que sustentam o espetáculo, proporcionando harmonia ao desenvolvimento do tema. Este papel é parte das festas em Parintins desde o início, quando o boi desfilava nas ruas e as toadas exaltavam o Caprichoso, incluindo desafios e provocações aos bois rivais.
O mestre de cerimônia conduz o espetáculo, iniciando a apresentação com a tradicional chamada "olha o boi, olha o boi, olha o boi...". Além disso, ele atua como narrador, introduzindo lendas, rituais e outros itens, apresentando-os de forma apropriada. Sua função é chamar a atenção dos jurados e do público para as evoluções dos itens na arena.
O personagem representa o dono da fazenda onde brinca o boi Caprichoso. Inspirado na herança nordestina dos repentes e versos de improviso, o amo canta e narra em falsetes a poesia cabocla e a história do boi de Parintins. Oriundo das brincadeiras nordestinas trazidas pelos fundadores, os irmãos Cid, o amo do boi Caprichoso representa Roque Cid, o criador e primeiro dono do Boi Caprichoso.
Período
Nome
Naturalidade
1984-1998
Rey Azevêdo
1999-1999
Benedito Siqueira
2000-2003
Rey Azevêdo
2004-2004
Renato Freitas
2005-2006
Edilson Santana
Santarém
2007-2009
Prince do Boi
2010-2013
Edilson Santana
Santarém
2014-2014
Junior Paulain
2015-2016
Edmundo Oran
2017-atual
Herland Pena - "Prince do Boi"
Marujada de Guerra
A sustentação rítmica é a base do espetáculo, fornecida por um agrupamento de percussão essencial às toadas. Reger uma orquestra de percussão já é complexo, e dividir 450 ritmistas em duas partes, com dois regentes, é um desafio que exige concentração e comprometimento artístico, alinhando os espetáculos de Arena com grandes musicais.
Méritos para pontuação incluem: cadência diferenciada, ritmo e constância.
Diferenciais e comparativos consideram: harmonia, disposição de arena, ritmo, indumentária e cadência.
A Galera Azul e Branca
A massa humana que forma uma das maiores coreografias uníssonas do mundo é um elemento crucial do espetáculo, com mais de dez mil torcedores ocupando a arquibancada do Bumbódromo desde cedo, enfrentando chuva, sol e calor. Esse sacrifício garante seus lugares para participar gratuitamente do grande coro que embala as apresentações do Boi Caprichoso. Após um dia inteiro de espera, eles mostram sua garra e força cantando as toadas, executando coreografias com braços ou adereços, e transmitindo sua energia e amor para a arena, interagindo ativamente com o apresentador.
Em 1988, ano de inauguração do Bumbódromo oficial de concreto armado e alvenaria, o jovem Arlindo Júnior assumiu o posto de levantador de toadas em 1989, inovando com novas coreografias. Em 1996, começaram os Medleys, misturas de arranjos com coreografias de braço que impactavam a arena. Em 2010, David Assayag, com raízes no Caprichoso desde 1991, voltou como levantador oficial de toadas após um período no boi adversário. A galera azul e branca permaneceu invicta por 8 anos, de 2011 a 2018, conquistando títulos em 2012, 2015, 2017 e 2018, e empates em 2011, 2013, 2014 e 2016 no item 19.
Organização do Conjunto Folclórico
A organização do conjunto folclórico envolve a reunião de itens individuais, artísticos e coletivos, todos baseados no tema da noite e dispostos de maneira organizada na arena de apresentação. A dimensão dos espetáculos e a organização de sua execução são avaliadas pelos jurados no item 21. A "limpeza da arena" se refere ao espetáculo com menos pessoas sem função visível durante a apresentação. A agremiação que mantiver os brincantes livres de comandos de última hora ou improvisos visíveis alcança a nota máxima. A falta de planejamento na execução do espetáculo pode resultar em perda de pontos.
Itens que concorrem no Festival: Bloco B - Cênico/Coreográfico
Sinhazinha da Fazenda
A personagem representa a filha do Amo do Boi, cujo brinquedo favorito é o Boi Caprichoso. Ela se apresenta com graça e alegria, exibindo uma indumentária que evoca a riqueza dos vestidos das sinhás coloniais, refletindo as influências da cultura branca na formação do povo parintinense. Atualmente, essa personagem é interpretada por Valentina Cid, descendente de Roque Cid, o fundador do Caprichoso.
Ano
Nome
Naturalidade
Ref.
1993-1998
Karina Cid
Parintins
1999-2000
Jeane Benoliel
2001-2006
Adriane Viana
2007-2013
Thainá Valente
2014-2015
Karyne Medeiros
2016
Adriane Viana
2017-atual
Valentina Cid
Parintins
Notas
Karina e Valentina Cid são mãe e filha, respectivamente.[14]
Cunhã-Poranga
Ela é a mulher mais bela das tribos do Boi Caprichoso, personificando a garra, o mistério e o espírito guerreiro das lendárias Amazonas. Em sua dança, expressa sentimentos profundos de amor e paixão. Atualmente, este papel é magistralmente representado na arena por Marciele Albuquerque, que estreou no festival em 2017.
Luisiana Medeiros representou o Amazonas no mesmo ano no Miss Brasil 1989, também participou do concurso Rainha das Rainhas do Carnaval Paraense em 1990, tornando-se vice-campeã.
Responsável por conduzir o estandarte azul e branco, símbolo em movimento do boi Caprichoso. Sua evolução na arena é marcada pela paixão e encanto pelo azul, destacando-se pela elegância, garra e simpatia ao reverenciar o estandarte. Este papel representa a sabedoria cabocla de Parintins, a tradição popular e a rica cultura indígena da Amazônia.
Ela personifica a geografia de mistérios e beleza do folclore da Amazônia, reinando absoluta nesse universo de sonhos. Encanta a todos com seu bailado e pela exuberância de suas indumentárias. A rainha é a guardiã do folclore, trazendo alegria e a magia de brincar de boi em perfeita harmonia com a diversidade cultural da vida na floresta. Sua presença na arena representa a união de todos os seres da mata, compartilhando a mesma alegria e um profundo respeito pela cultura e pela natureza.
Ano
Nome
Naturalidade
Ref.
1984-1986
Inah Lopes
Parintins
1988-1992
Karina Cid
1993-1996
Dunya Assayag
1997-1999
Camila Assayag
2000-2004
Daniela Monteiro Alencar
2005-2008
Karla Thainá
2009-2018
Brena Dianná
2019-atual
Cleise Simas
Parintins
Pajé
O pajé é um item importante na regionalização da festa. Aqui nas representações do auto do boi, mãe Catirina, grávida, deseja comer a língua do boi preferido do patrão, forçando o seu marido, o Pai Francisco, a matar o boi e arrancar a língua para satisfazer os desejos da grávida. Ao fim o boi é ressuscitado pelo curandeiro local, com poderes sobrenaturais, o poderoso Pajé. O Pajé interpreta em sua apresentação o feiticeiro, o curandeiro, o mago das transmutações, fascinando pelos cantos, pelas rezas, danças e rituais. Com o poder mágico das ervas, repete o gesto de invocar os espíritos sagrados pedindo proteção aos ancestrais para expulsar o ser maléfico. Após anos de evolução da festa, o Pajé ganhou importância no enredo do espetáculo, migrando em definitivo para a parte tribal da festa, encenando os ritos e lendas indígenas. Sendo a aparição desse item um dos momentos mais aguardados de cada noite.
Ano
Nome
Naturalidade
Ref.
1992-2016
Waldir Santana
Parintins
2017-2019
Neto Simões
2020-atual
Erick Beltrão
Parintins
Boi-Bumbá (Evolução)
O símbolo da manifestação popular e motivo principal do festival, o artista plástico Alexandre Simas Azevedo, de 33 anos, herdou de seu pai o talento para dar vida ao boi de pano, e agora está pronto para defender o item Tribo do Caprichoso. Criado na Rua Cordovil, um berço tradicional do Caprichoso, desde criança o boi-bumbá foi seu brinquedo favorito. Aos 19 anos, Alexandre Azevedo dançou pela primeira vez debaixo do "boi da estrela na testa", em um evento oficial do Caprichoso em Brasília, quando seu pai, Marcos Azevedo, sofreu um acidente e não pôde viajar. Desde 2001, sua ligação com o bumbá da estrela se fortaleceu, acompanhando seu pai nas apresentações no Festival Folclórico de Parintins, até o momento em que assumiu o item em outubro de 2016.
A experiência de Alexandre Azevedo na arena do Bumbódromo e em eventos oficiais do boi por todo o Brasil o credenciou a ser o sucessor de seu pai. Em 2001, quando seu pai machucou o pé pouco antes de uma importante viagem à Brasília para uma apresentação da Coca-Cola, Alexandre assumiu a responsabilidade e se colocou à disposição do Caprichoso para acompanhar a viagem. Desde então, ele passou a acompanhar seu pai na arena, participando em alguns momentos e revezando no item, seja no Bumbódromo, em viagens pelo país ou em shows em Manaus. Seu primeiro contato com o boi foi na infância, brincando com um "boizinho" na rua de casa, o que despertou desde cedo sua paixão pelo folclore e pelo Caprichoso.
Coreografia
Todos os movimentos de dança apresentados durante o espetáculo são construídos a partir das toadas, essenciais para os espetáculos musicais de arena. As coreografias variam em estilos específicos que caracterizam os cordões e representam o bailado dos itens individuais, refletindo traços das danças dos folguedos em que o Boi-Bumbá se inspira.
A coreografia reproduz, de forma livre ou poética, as etnias que compõem essa tradição na Amazônia. Ela é fundamental para expressar a visão do branco sobre o negro e o índio, assim como a auto percepção desses grupos, um ciclo essencial para a evolução folclórica. O Boi Caprichoso foi pioneiro ao introduzir tribos coreografadas na Arena do Bumbódromo, todas criadas e treinadas pelo eterno Pajé Waldir Santana.
Itens que concorrem no Festival: Bloco C - Artístico
Rituais Indígenas
Recriação de ritmo xamanístico, fundamentado através de pesquisa, dentro do contexto folclórico. A encenação ou recriação de rituais indígenas como quadro apoteótico no Boi-Bumbá reúne elementos alegóricos, coreográficos e teatrais, numa soma dramática capaz de revelar cenicamente o universo indígena e suas cosmogonias, apanhados nas toadas de diversas etnias, apresentadas de forma avassaladora nos espetáculos de arena do Caprichoso.
Rituais que marcaram as apresentações do Boi Caprichoso:
1994 - Ritual Unankiê, Fibras de Arumã e Ritual Urequeí
1995 - Lagarta de Fogo, Templo de Monan e o inesquecível ritual Kananciuê
1996 - Ritual do medo, Réquiem Prece aos Espíritos
1999 - Ritual a Oração da Montanha, Ritual Xamã,
2000 - Mura, o príncipe das Águas e Luz da Comunhão
2003 - Ritual Ulaimkimpia, Ritual Angaratã e Ritual Mochica
2004 - Ritual Mariwin, Ritual Ibirapema e Panteão Amazônico o Giro dos Deuses
2005 - Ritual Profecia Karajá, Caçadores de Tarântulas
2006 - Ritual Fera Xingu, Ritual Viagem ao Mundo dos Espíritos e Ritual Deusa do Dragão
2007 - Ritual Mascara de Aura, Rito Sateré e Ritual Baniwa - Guardiões do Mundo
2008 - Ritual Espírito Manaó, Ritual Kamarãpi e Ritual He-Merimã
2009 - Ritual Aldeia Subterrânea, Ritual Mayoruna e Ritualística Apurinã
Uma das particularidades da vertente do boi de Parintins está justamente nas diversas formas que a Amazônia entrou na brincadeira, sobretudo, com seu universo indígena. Faz parte da disputa o melhor desempenho do corpo de dança representando indígenas, enriquecido pela musicalidade tribal e as coreografias executadas por mais de 160 jovens, cujas indumentárias e desenhos coreográficos, recriam as tradições étnicas dessa região.
Tuxauas
Chefe da tribo, representação alegórica do imaginário indígena e caboclo da Amazônia. A liderança de uma aldeia está representada neste item que, por força da disputa, precisa conduzir uma indumentária com proporções agigantadas, onde os principais elementos étnicos da aldeia devem estar nela acoplados. A grandiosidade e a forma como a indumentária é conduzida, mostra força e obstinação por parte do dançarino que a veste, provando que pode conduzir o seu povo.
Figura Típica Regional
Símbolo da cultura amazônica, na sua soma de valores a partir dos elementos que compuseram sua miscigenação. Outra incursão no Boi-Bumbá de Parintins é o item Figura Típica da Região. Traduz-se como o imaginário caboclo que cria e recria lendas e mitos fantásticos nos beiradões desses imensos cursos d´água, que dividem a fronteira da realidade e dos sonhos. Surgem no palco do Festival em representações alegóricas e poéticas, encenadas num ambiente que recria o cotidiano de Tacacazeiras, Artesãos, Farinheiros, Juteiros, Pescadores, de figuras que em sua pluralidade, são tipicamente da Região amazônica.
Alegorias
Estruturas artísticas que funcionam como suporte e cenário para apresentação. Denominou-se ‘Alegorias’ este item para facilitar sua compreensão, porque em verdade trata-se de grandes cenários onde esculturas gigantes ganham animação com movimentos que amparam os principais quadros do espetáculo de arena. O avanço na construção destes cenários é justamente um dos destaques do Festival Folclórico de Parintins, seus construtores são conhecidos como artistas de ponta que já atravessaram as fronteiras da região e hoje estão nos maiores eventos populares do Brasil, como os Carnavais do Rio e de São Paulo e do maior evento esportivo do mundo, as Olimpíadas.
Lendas Amazônicas
Ficção que retrata e ilustra a cultura e o folclore de um povo. É tão rico o lendário amazônico que ano a ano nos espetáculos de arena, formatou-se um quadro específico para a recriação cênica das lendas extraídas do imaginário caboclo e indígena. Seres fantásticos em estórias encantadas de "cobra que vira homem", da "tribo inteira só de mulheres", do "curumim com os pés virados para trás", do ser "híbrido com a boca na barriga", para citar alguns. Esse universo todo cantado em toadas, passa pela criação dramatúrgica cercada de mistérios para depois, transportar o espectador pelo imaginário amazônico.
Vaqueirada
Nessa apresentação, os Vaqueiros devem cercar o boi evitando qualquer ameaça ou perigo ao mais querido do Amo. Trazem suas lanças para marcar a propriedade do dono da fazenda e para criar um momento fabuloso que cerca todas as personagens do "Auto do Boi", numa evolução colorida e muito alegre em festejo à chegada do mais bonito boi da fazenda, o Caprichoso. Os brincantes da Vaqueirada são rapazes voluntários das comunidades de Parintins que, ao toque do tambor, se reúnem para vestir seus cavalinhos e apanhar suas lanças com muito orgulho de ser parte da tradição dessa festa folclórica.
Projeto social
Desde 1997, o Caprichoso mantém a Escola de Artes Irmão Miguel de Pascalle, conhecida também como "Escolinha de Artes Caprichoso", criada na gestão do então presidente Joilto Azedo. Inicialmente de forma tímida como um projeto experimental, envolvia cerca de 50 crianças. Nos dias Atuais, a escola de artes atende mais de 700 jovens entre 07 a 20 anos no compromisso de iniciação artística, no apoio aos esportes e auxilio no reforço escolar. Este Projeto já atende a demanda interna do boi Caprichoso em praticamente todos os seus setores, que concorrem o festival e em especialmente na parte artística e musical. Para participar das atividades e laboratórios da escola, é preciso apenas estar matriculados na rede de ensino formal. As crianças e adolescentes não precisam torcerem para o Caprichoso para serem aceitas, tanto que a escola já revelou itens inclusive para o adversário.
As Toadas
Até o final dos anos 80 as toadas eram músicas cujas letras exaltavam o boi e demais personagens como Pai Francisco, a Sinhazinha, dentre outros, além de exaltarem a cultura cabocla parintinense. No início dos anos 90, a temática indígena que foi introduzida com sucesso, principalmente com o advento dos rituais indígenas, que se tornaram o ponto alto do Festival. O Caprichoso foi o que melhor utilizou a temática, alcançando grande destaque graças ao sucesso que crítica e público concederam a toadas indígenas como Fibras de Arumã, Unankiê, e Kananciuê. Com o sucesso de tais toadas, o público de Manaus, que gostava timidamente do ritmo, passou a abraçar a toada e a adotou como símbolo da cultura amazonense. No ano seguinte, o grupo Canto da Mata, composto por Geraldo Brasil, Cabá, Pampa, Aluízio Brasil, Alex Pontes, Maílzon Mendes, Alceo Ancelmo e Neil Armstrong, iniciou um outro estilo de toada que também tomaria conta do grande público de Manaus e de Parintins, a Toada Comercial. Em 1995, com o uso dos teclados - que tinham sido usados pela primeira vez de maneira tímida em 1994 - o grupo compôs a toada "Canto da Mata", que foi um grande sucesso nas rádios e ajudou o Caprichoso a vencer o Festival. Em 1997, compuseram outra toada que se tornou fenômeno no Amazonas: "Ritmo Quente", grande sucesso nos ensaios do boi e também em eventos turísticos de Manaus, como "Boi Manaus" e o "Carnaboi".
Toadas do boi Caprichoso que marcaram o Festival de Parintins
Grito de Alerta (José Carlos Portilho) - 1984
Rara Beleza (Sales Santos) - 1989
Coração Azul e Branco (Hugo Levy, Romildo Campos) - 1989
Alerta Marujada (Carlinho) - 1989
Sereia (Raimundinho Dutra) - 1989
Areia Branca (Raimundinho Dutra) - 1989
Chamada do Boi (Silvio Camaleão) - 1990
Orvalho da Ilha (Hugo Levy, Lélio Lauria, Sales Santos) - 1990
Ninguém Gosta Mais Desse Boi do Que Eu (Carlos Paulain) - 1991
Missionário da Luz (Chico da Silva) - 1991
Pescadores - (Marcos Santos e Chico da Silva) 1991
Toada do Cônsul (Marcos Santos e Chico da Silva) - 1992
O Tambor da Terra (Ronaldo Barbosa, Ronaldo Barbosa Jr) - 2024
O Mais Querido do Povão (Adriana Cidade, Adriano Aguiar) - 2024
Mothokari (Ronaldo Barbosa, Ronaldo Barbosa Jr) - 2024
Festas Tradicionais
Boi de Rua
O "Boi de Rua" é a festa mais tradicional realizada pelo Caprichoso, ocorre sempre no mês de Abril e faz parte da temporada bovina em Parintins. Fogueiras, lamparinas, Marujada, Vaqueirada, Pai Francisco e Mãe Catirina são elementos presentes na brincadeira, que até hoje reúne famílias nas portas das casas e centenas de brincantes em caminhada, pelas ruas da cidade. Durante o trajeto, o Boi de Rua passa por pontos importantes do município de Parintins, como a catedral de Nossa Senhora do Carmo, até chegar ao curral Zeca Xibelão.
Bar do Boi
Realizado a 30 anos, o Bar do Boi é um tradicional evento do Boi Caprichoso em Manaus, promovido pelo Movimento Marujada e é considerado vitrine do Festival Folclórico de Parintins para o Brasil e o mundo. É um grande show realizado com a presença de todos os itens, bandas e grupos de danças do Boi e atrai um grande público.
Temas
É a temática que o boi desenvolve ao longo de suas apresentações no Festival Folclórico de Parintins, a seguir os temas defendidos pelo Boi Caprichoso de 1980 a 1987 na era pré Bumbódromo, e a partir de 1988 na era Bumbódromo.
↑ abcAndrade, Odinéa (2023). Estrelas de um centenário: Trajetória do Boi-Bumbá Caprichoso. Rio de Janeiro: EDITORA UEA (publicado em fevereiro de 2023). ISBN978-85-7883-563-7
↑Dutra, Raimundo (2005). Revelação Histórica do Folclore Parintinense. Amazonas: Folclore de Parintins 1ª edição, 2005 Secretaria Municipal de Cultura Meio Ambiente e Turismo.
↑Andrade, Odinéa (2023). Estrelas de um centenário: Trajetória do Boi-Bumbá Caprichoso. RIO DE JANEIRO: EDITORA UEA. p. 35. ISBN978-85-7883-563-7
↑Andrade, Odinéa (2023). Estrelas de um centenário: Trajetória do Boi-Bumbá Caprichoso. Rio de Janeiro: Editora UEA. p. 183. ISBN978-85-7883-563-7
↑Andrade, Odinéa (2023). Estrelas de um centenário: Trajetória do Boi-Bumbá Caprichoso. Rio de Janeiro: EDITORA UEA. p. 101. ISBN978-85-7883-563-7
↑Andrade, Odinéa (2023). Estrelas de um centenário: Trajetória do Boi-Bumbá Caprichoso. Rio de Janeiro: EDITORA UEA (publicado em fevereiro de 2023). p. 47. ISBN978-85-7883-563-7
↑1 Omar, 2 Garcia, 3 Nakanome, 1 Diego, 2 Elziandra, 3 Erick (2021). Os Bois-Bumbás de Parintins: novos olhares. Rio de Janeiro: Editora UEA. p. 271. ISBN978-65-80033-34-8 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)