César Bórgia (em italiano: Cesare Borgia; Roma, 13 de setembro de 1475 – Viana, 12 de março de 1507), foi um príncipe, cardeal e nobre italiano da Renascença europeia. Era filho de Rodrigo Bórgia, eleito Papa Alexandre VI em 1492, com Vannozza dei Cattanei.[1] Entre os seus irmãos estão Giovanni Bórgia, Lucrécia Bórgia e também Gioffre Bórgia. Além dos quatro mais conhecidos filhos de Rodrigo, existiram também meios-irmãos de mães desconhecidas, e entre eles está Pedro Luís de Borja e Girolama Borja. Foi Duque de Valentinois.
Pouco tempo após a morte do seu irmão Giovanni Borgia abandona a carreira na igreja, na qual era cardeal, para assumir as responsabilidades militares da família e é elevado a capitão geral da igreja pelo seu pai, e nomeado Duque de Valentinois, entre outros, pelo rei de França, Luís XII.[2]
Casou-se com a nobre francesa Charlotte d'Albret, com ela teve uma filha, Luisa Bórgia.
Conviveu com figuras como Leonardo da Vinci, que trabalhou para ele como engenheiro militar e projectou mapas para as suas campanhas,[2] e com Nicolau Maquiavel, que o admirava, chegando a usar César como um modelo inspirador para o seu livro, O Príncipe.[3][4]
César era calculista e violento e tentou, com o apoio do pai, constituir um principado na Romanha em 1501.[5]
Primeiros anos, igreja e ascensão
Nascido em Roma entre 1475 e 1476, a data de seu nascimento é disputada por historiadores, César foi educado desde seus primeiros anos para se tornar um homem da Igreja.[6] Entretanto, seu caráter não era o de um religioso. Assim como seu pai Rodrigo Borgia, César mantinha muitas relações carnais com mulheres, sendo estas amplamente conhecidas desde que era adolescente.[7] Por isso, logo percebeu que não tinha vocação ou desejo para o celibato e sacerdócio.[8]
Estudou direito e durante esse período foi nomeado bispo de Pamplona com 15 anos e arcebispo de Valência, posteriormente, com 17 anos. Com a subida do seu pai para o cargo máximo da igreja, como Papa Alexandre VI, César é elevado a cardeal aos 18 anos, tendo desde já, em tão tenra idade, um extenso currículo e significativa posição dentro da igreja.[1]
Em 1497 com a morte do seu irmão Giovanni que ocupava o posto de capitão geral da igreja e havia sido o escolhido por Alexandre VI para assumir o lado militar da família, César encontra aqui a sua oportunidade para, finalmente, abandonar a indesejada carreira eclesiástica e ascender aos mais altos cargos da carreira militar.[1]
A morte do seu irmão nunca foi clarificada e não se sabe ao certo quem cometeu o crime, sendo César um dos suspeitos, entre outros, sem nenhuma prova contra ele, apesar do seu óbvio interesse pela carreira destinada ao seu irmão.[8]
Embora a sua intenção fosse uma carreira militar, César teve um período conturbado desde a morte do seu irmão até assumir o seu posto militar. Isto porque já se encontrava numa posição de bons rendimento e prestígio como cardeal e, portanto, precisava de certas garantias para abdicar de tudo o que já havia acumulado e ingressar nesta nova área.[2]
Em agosto de 1498 ele abdica, finalmente, da sua posição dentro da igreja, após conseguir não só o já esperado apoio do seu pai, como também o forte apoio da França, por intermédio do Rei Luís XII que, no mesmo dia, o nomeou Duque de Valentinois e lhe deu garantias de apoio militar às suas desejadas conquistas em Itália. Além disso, reforçou ainda mais a sua aliança com a França através do casamento com uma nobre da sua corte, Charlotte d'Albret.
Estes apoios e consideráveis cedências da parte de Luís XII deviam-se ao facto deste rei querer o divórcio da sua actual esposa para, assim, assegurar o casamento com Ana de Bretanha, cujas núpcias lhe garantiria uma posição estratégica importante e reforçaria seu poder dentro do próprio estado francês.[2]
Já nomeado capitão geral da igreja e com a ajuda do seu pai, conquistou vários estados, principalmente na Romanha, no qual foi criado o novo título de Duque da Romanha. Extremamente hábil, logo livrou-se de seus inimigos — dentre eles, Oliverotto de Fermo — convidando-os para seu palácio de Senigália, onde os aprisionou e os assassinou.[9]
Ganhou fama e glória, o que lhe possibilitou obter a simpatia e o apreço de grande parte dos cidadãos dos estados por ele conquistados e governados, tornando-se uma figura extremamente popular entre estes.[3]
Recebeu o título de gonfaloneiro da igreja pelo seu pai após conquistar Imola e Forlì e foi uma forte influência no livro O Príncipe, de Maquiavel, com o qual conviveu diversas vezes e o qual elogiou abertamente César na sua obra.[3]
Últimos anos e morte
Apesar da sua imensa capacidade como estrategista, general e governante, não demorou muito até perder tudo o que conquistou após a morte do seu pai em 1503.[1]
Sem Alexandre VI, inicialmente, o seu poder era significativo ao ponto de conseguir influenciar a escolha do sucessor do seu pai, o Papa Pio III, que lhe manteve todos os benefícios que tinha anteriormente. No entanto, o pontificado do Papa Pio III durou apenas 26 dias, após os quais este faleceu.[10]
Por esta altura, César Bórgia, se encontrava numa situação delicada, estando doente e bastante enfraquecido enquanto político. Desse modo, apoiou a candidatura e deixou-se levar pelas promessas do maior inimigo da sua família, Giuliano Della Rovere, permitindo que este Cardeal fosse eleito como novo Papa.[2]
Papa Júlio II desprezando o acordo com César, como a preservação das suas posições dentro da igreja e dos seus estados, começou rapidamente a tomar medidas para lhe retirar todo o poder adquirido até então.[3]
Acabou por viver o resto dos seus anos ora como prisioneiro, sendo encarcerado sucessivamente pelo papa Júlio II e pelo rei de Castela,[9] ora como fugitivo, excepto nos últimos meses de vida, em que serviu como comandante para o Rei João III de Navarra, que era seu cunhado.[2]
Foi assassinado aos trinta e um anos, no ano de 1507, em Viana, no Reino de Navarra e lá está sepultado na Iglesia de Santa María de Viana.[11]
Na arte
No cinema, César Bórgia foi representado por Orson Welles no filme Prince of Foxes. Foi também interpretado por François Arnaud na série The Borgias, de Neil Jordan, finalizada em junho de 2013.
Existe ainda a série Borgia, conhecida pelo nome Borgia: Faith and Fear, o nome da primeira temporada, produzida por Tom Fontana, e em que César Bórgia é interpretado pelo ator Mark Ryder.[12]
No jogo Assassin's Creed: Brotherhood, César Bórgia assume o papel de principal antagonista, sendo ele hipoteticamente um Templário, inimigo da família Auditore.[carece de fontes]
Ver também
Referências
- ↑ a b c d DURANT, Will e Ariel (1984). A RENASCENÇA. Rio de Janeiro-: Editora Record
- ↑ a b c d e f Bradford, Sarah, 1938- (2001). Cesare Borgia : his life and times. London: Phoenix. ISBN 1-84212-452-8. OCLC 47193556
- ↑ a b c d Machiavelli, Niccolò, 1469-1527,. The prince. New York: [s.n.] ISBN 0-486-27274-5. OCLC 25915297
- ↑ Nicolau Maquiavel - O Príncipe - Editora Cultrix - 1939 - 165 páginas
- ↑ Hélio Jaguaribe - Um estudo crítico da história, Volume 2, 2001 - Editora Paz e Terra
- ↑ Elben M.2 Lenz Cesar - Conversas Com Lutero: Historia E Pensamento, 2006 - Editora Ultimato - Num. págs. 288
- ↑ Will Durant - A Reforma, 1984 - Editora Record
- ↑ a b «Cesare Borgia|Biography & Facts». Encyclopedia Britannica (em inglês). Consultado em 29 de fevereiro de 2020
- ↑ a b ABRAHÃO, Miguel M. (1984). O Strip do Diabo. São Paulo-: Editora Shekinah, 620 pg.
- ↑ Gregorovius, Ferdinand.; Hamilton, Annie. (2010). History of the City of Rome in the Middle Ages. Volume 8 Part 1. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-511-71024-7. OCLC 889962273
- ↑ Ernst Cassirer – O Mito do Estado - Editora Conex - Num. págs. 344 páginas
- ↑ Borgia, consultado em 18 de janeiro de 2020
Ligações externas