Nas terras que hoje integram o município de Caculé existia, no século XIX, a Fazenda Jacaré, de propriedade de Dona Rosa Prates. A fazenda era bem extensa, com um território que se alongava do distrito de Ibiassucê, até os limites do antigo município de "Bom Jesus dos Meiras", atual município de Brumado. Contudo, o fato era que, de tão grande, seus proprietários não conheciam exatamente toda sua extensão e limites de forma precisa.[7]
O registro histórico e oral que predomina entre a população mais idosa, que também ouviu dos seus antepassados, relata que um escravoafricano que assumia a função de vaqueiro da Fazenda Jacaré, de nome "Manoel Caculé", foi a razão e origem do atual nome da cidade.[7] Por volta do ano de 1854, após uma viagem a cavalo de quatro léguas no interior das terras dessa vasta fazenda, esse escravo encontrou uma linda lagoa, que ainda tinha proximidade com um rio - que hoje é conhecido como "Rio do Antônio". Deslumbrado com aquele cenário e abundância de água num terreno desconhecido pelos próprios donos da fazenda, Manoel Caculé resolveu construir um rancho de taipa com telhados de palmas de ouricuri e passou a residir nesse local que, para ele, representava o paraíso e a liberdade da sua condição de escravo.[7][8]
Durante muito tempo, Manoel Caculé foi dado como morto pela família de dona Rosa Prates, até que o momento em que um outro escravo que havia encontrado Manoel no seu "pedacinho do céu", denunciou a situação do escravo Caculé para os donos da fazenda. Ao chegar no local, junto com toda uma comitiva para recapturar o escravo fugitivo, dona Rosa Prates se deparou com uma surpresa: recebeu uma proposta de pagamento em dinheiro de Manuel para o pagamento da sua própria alforria, por orientação de abolicionistas da região. Dona Rosa Prates aceita a proposta e envia em poucos dias a carta de alforria de Manoel Caculé.[7]
Em 1854, esse lugarejo, além de uma grande mata virgem, era cortada por uma estrada real que dava acesso aos viajantes do estado de Minas Gerais aos municípios de Jacaraci, Caetité e São Felix. Os viajantes que tomavam aquela direção, ao se cruzarem pelo caminho, perguntavam, uns aos outros, de onde vinham e para onde iam, e a resposta era sempre a mesma: "Lagoa do Caculé". Este nome passou assim a designar o acidente geográfico, depois o povoado e, mais tarde, estendeu-se a todo o atual município de Caculé.[7][8]
Ao conhecer a região da fazenda que Manoel Caculé vivia, Dona Rosa também ficou encantada com o local. Anos depois, após a divisão da Fazenda Jacaré entre os herdeiros, ela opta por ficar e residir na terras que futuramente será instalado o atual município. Após a mudança de Dona Rosa Prates para lá, ela constrói uma grande casa, no alto, próximo a lagoa, uma outra casa pequena para seu sobrinho Tinoco e a senzala dos escravos. Com isso, o lugarejo passou então a ser conhecido como "Fazenda Caculé".[7]
Em 1860, Dona Rosa doou um terreno ao Sagrado Coração de Jesus para ser erguida uma capela sob essa invocação, no local onde, atualmente, se ergue a cidade. No entanto, a ideia de construir essa primeira capela foi de Dona Ana Tereza, mãe de Dona Rosa. Com a morte da sua genitora que não teve a satisfação de ver o seu ideal religioso concretizado, Dona Rosa se empenhou para a construção desse sonho. Com o término das obras, a primeira missa foi celebrada pelo Padre Joaquim Pedro Garcia Leal, sobrinho de Dona Rosa Prates e Vigário de Umburanas.[7] Além disso, Dona Rosa Prates também fez um testamento dando alforria para todos os seus escravos da Fazenda, além de deixar vários pedaços de terra entre todos eles, a fim de que os mesmo pudessem se manter após a sua morte.[7]
Com a construção da Capela, a alforria dos escravos que tinham terra para plantar, juntamente com a presença da estrada real que cortava a região e dava acesso aos viajantes, se formou ali, com o passar do anos, um vilarejo que foi se desenvolvendo de forma promissora. Assim, em 23 de julho de 1880, essa região do Santíssimo Coração de Jesus de Caculé foi eleva a "Distrito de Paz" por meio da Lei Provincial de n° 2.093. Vinte e dois anos depois, em agosto de 1902, devido ao amplo progresso da região de Caculé, a sede da freguesia foi transferida para lá por ato do Arcebispo da Bahia na época, Dom Jerônimo Tomé da Silva. Em 1880, Caculé é elevada a Distrito de Paz pela Lei Provincial n° 2.093[7] e depois emancipada em 14 de agosto de 1919.[7][8]
Formação administrativa
A lei estadual nº 1.365, de 14 de agosto de 1919, criou o município de Caculé, com território desmembrado do de Caetité.[7][8] A sua instalação ocorreu a 1 de janeiro de 1920. Desta maneira foi o arraial de Caculé elevado à categoria de vila. Em 30 de março de 1938, a vila de Caculé transformou-se em cidade. O Decreto-lei estadual nº 519, de 19 de junho de 1945, criou a Comarca de Caculé constituída pelo termo único de idêntico nome, desmembrado da de Caetité.[7][8]
Segundo o quadro administrativo do País, vigorante em 1º de janeiro de 1960, o município era composto de 4 distritos: Caculé, Ibiassucê, Ibitira e Rio do Antônio.
Geografia
Caculé localiza-se na zona fisiográfica da Serra Geral, no Polígono das secas do SertãoNordestino, na Região Sudoeste da Bahia, mais especificamente, na Mesorregião do Centro-Sul Baiano e na Microrregião de Guanambi. A sede do município possui as seguintes coordenadas geográficas: 14º 50'26 de latitude S; e 42º 22'e 25 de longitude W.[1] O Rumo do município, partindo da capital do estado, é O.S.O., e dela dista, em linha reta, 416 quilômetros e, por meio de estradas, cerca de 782 quilômetros.
O seu território é pouco acidentado e altitude da sede do município é de 572,55 metros. A sede se situa no local de uma chapada cravada, à direita da porta principal, na Estação da Viação Férrea Federal Leste Brasileiro.[7]
Demografia
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Caculé (BA) atingiu 22.462 habitantes no Censo de 2022. Esse número reflete um crescimento populacional em relação ao Censo de 2010[9].
No ranking dos municípios, Caculé está na 1.543ª colocação no Brasil, 523ª colocação no nordeste e 138ª colocação no estado da Bahia[9].
A pesquisa do IBGE também revela que Caculé (BA) possui uma densidade demográfica de 36,76 habitantes por km² e uma média de 2,87 pessoas por residência[9].
Informações da população residente no município de Caculé - BA com a taxa de crescimento anual de acordo com o Censo do IBGE[10].
Ano
População
Taxa de crescimento (%)
1970
12.608
2,28
1980
15.481
1,37
1991
17.812
1,58
2000
20.339
0,93
2010
22.236
0,08
2022
22.462
-
Clima
De acordo com o Mapa Climático do IBGE, o clima de Caculé é semiárido quente, com uma estação seca que dura, em media, seis meses e a média das temperaturas fica acima de 18 °C em todos os meses do ano.[11] O município encontra-se na zona tropical Brasil Central.[12] No que se refere à pluviometria do município, apesar da estação da seca ser mais predominante, entre os meses outubro a fevereiro é possível cair trovoadas, acompanhadas de grande chuvas que transbordam os pequenos riachos e lagoas que encharcam as estradas e, em alguns locais, as tornam intransitáveis.[7] Contudo, essa condição não ocorre de forma regular. No período de janeiro de 2000 a outubro de 2012, por exemplo, as médias de precipitação anual são bem irregulares. O maior índice anual registrado ocorreu no ano de 2008, com 985 milímetros de água, enquanto que o menor índice anual aconteceu no ano de 2003, com 343 milímetros.[13]
Fonte: [1] Os dados climatológicos representam uma média do período entre 1961 e 1990.
Hidrografia
A hidrografia de Caculé é caracterizada pela presença do rio do Antônio: um rio temporário (corrente apenas no período das águas). Ele é um dos afluentes do Rio Brumado, que desce do município de Jacaraci com o nome de Palmeiras para unir-se com o seu afluente de nome Rio do Salto, nas proximidades das divisas com Caculé, para então receber esse nome: Rio do Antônio.[1][7] Após passar por Caculé, ele deságua no Rio Brumado e este, por sua vez, no Rio das Contas.[13][14]
À margem esquerda do Rio do Antônio, nas proximidades da cidade, é o local da histórica Lagoa de Manuel Caculé, que abastece parte da população, mas, por ser salobra, não tem condições adequadas para o consumo doméstico.[1][7] Além da Lagoa de Caculé, compõem o ambiente hidrográfico da região as Lagoas do Cercado, Jaboticaba, Capivara, Periperi, Malhada e Cabeceira. À margem direita da parte do mesmo Rio do Antônio que corta o município, existem as lagoas do Esconso, Espinho, Cambambosa, Amargoso, Torta, dentre outras. Já no centro, é possível encontrar as lagoas Alecrim, Alegre e Patos.[7]
↑ abCleide Aparecida Freitas Farias, Márcio Lima Rios; Altemar Amaral Rocha (8 de novembro de 2013). «Uso da terra e degradação ambiental na sub-bacia do Riacho de Quirino - Caculé, BA»(PDF). Goiânia: Centro Científico Conhecer. Enciclopédia Biosfera. v. 9 (n. 16): 215-233. Consultado em 9 de Setembro de 2015 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)