Domiciano era filho do primeiro imperador da dinastia Flávia, Vespasiano (r. 69-79), e irmão mais novo de seu antecessor, o imperador Tito (r. 79-81). Ele adotou uma política externa extremamente agressiva sobretudo no ocidente, iniciando uma série de guerras ao longo das fronteiras imperiais, não apenas para torná-las mais seguras mas também para conquistar glória e fama para seu próprio nome.
O casus belli foi que nem marcomanos e nem quados haviam enviado ajuda aos romanos durante a guerra contra os dácios de Décebalo como mandava o tratado de aliança firmado entre Marobóduo e Tibério em 6, o que deixou Domiciano furioso. Depois de marchar pela fronteira do Reno na primavera de 89, Domiciano chegou à Panônia. Depois de ter condenado à morte membros de uma embaixada germânica enviada para oferecer as desculpas oficiais ao imperador e pedir perdão (a segunda que enviaram), o imperador começou a guerra em Carnunto e deu início à primeira fase da guerra suevo-sarmática[2].
A expedição contra as populações suevas foi certamente um erro estratégico, pois Domiciano precisou abandonar a guerra na Dácia enquanto estava em posição bastante favorável depois da recente vitória na Batalha de Tapas em 88, aceitando um tratado de paz pouco favorável que acabou adiando a conquista romana da Dácia. Mas é possível que tenha sido, considerando as escassas informações que dispomos, um ataque preventivo por parte dos romanos contra os suevos, que estavam preparando uma invasão à rica província da Panônia[3].
O total das forças reunidas girava em torno de 120 000 homens, dos quais 60 000 eram legionários e o restante, auxiliares[5]. No decorrer da campanha, o limes do curso médio do Danúbio foi reforçado por nove legiões, o que resultou na construção de várias novas fortalezas legionárias em Vindobona, Brigetio e Aquinco.
A campanha foi conduzida inteiramente em território inimigo a norte do castro de Carnunto. Foram atacados os assentamentos germânicos vizinhos do Danúbio, na Morávia e talvez também na Eslováquia, mas o resultado foi desastroso para os romanos, que foram duramente derrotados pelos marcomanos[6]. Uma inscrição parece, por outro lado, testemunhar algumas vitórias romanas contra marcomanos, quados e sármatas (jáziges) neste mesmo período[7].
Por conta disto, Domiciano acabou forçado a terminar a guerra dácia oferecendo um generoso pacto a Decébalo para evitar que fosse atacado simultaneamente em dois fronts.
Segunda fase (92)
Aparentemente Domiciano passou o período intermediário entre as duas fases tentando isolar diplomaticamente as duas tribos suevas firmando alianças com as tribos que viviam ao norte do território delas, os lúgios e os sêmnones[8]:
“
Másio, rei dos semnones, e Ganna (que era uma sacerdotisa virgem sucessora de Veleda na Germânia) se apresentaram a Domiciano e, depois de terem recebidos suas honras por parte do imperador, partiram
Isto provocou uma imediata reação entre os quados, que, por sua vez, se aliaram com a tribo sármata vizinha dos jáziges e se preparam para atravessar o Danúbio, que congelou no início de 92[9].
Nesta nova fase da guerra, o quartel-general provavelmente ficava nas imediações do castro de Aquinco e o território onde os principais confrontos se realizaram foi a planície húngara do Tibisco e a Eslováquia oriental dos quados. À frente do exército romano estava Lúcio Tário Rufo, que aparentemente não conseguiu nenhuma vitória importante, especialmente considerando que uma legião inteira foi destruída pelos jáziges[10]. Provavelmente a V Alaudae, apesar de alguns autores defenderem que foi a XXI Rapax[11].
Terceira fase (95?-97)
Na terceira e última fase da guerra, os exércitos romanos, sob o comando geral do futuro imperador Trajano, conduziu uma massiva ofensiva contra os jáziges da Sarmácia e contra os marcomanos. Quados, marcomanos e jáziges, no final de três anos de duros e sangrentos embates, se renderam, como parece testemunhar o Arco de Benevento, além de duas outras inscrições do período. Na primeira, um certo legado militar da XIII Gemina, possivelmente o futuro cônsul em 124, Caio Belício Flaco Torquato Tebaniano, recebeu diversas condecorações ao final da campanha contra os "sármatas" e os "suevos"[12]. Na segunda, um centurião chamado Lúcio Acônio Estatura foi premiado por ter combatido contra os germanos e os sármatas[13].
Trajano, por sua vez, recebeu um triunfo, o título de "Germânico" e foi adotado pelo imperador Nerva (97), o que o tornou herdeiro aparente do império.
Consequências
A questão dos suevos se inflamou novamente durante o reinado do imperador Adriano, quando o seu herdeiro Lúcio Élio César foi enviado para a fronteira panônia entre 136 e 138. Nos quarenta anos seguintes, quados e marcomanos permaneceram em paz, mas com o inverno de 166/167 houve um primeiro indício de que haveria em breve uma autêntica invasão germânica como já havia três séculos que não se via (desde a época de Mário e a Guerra Címbria). Em 170, uma horda de doze tribos germânicas invadiu o império e se dirigiu para o nordeste da Itália, destruindo Oderzo e cercando Aquileia. Era o início da Guerra Marcomana, que duraria até o final de 188 e obrigou o imperador Marco Aurélio a considerar a anexação do território inimigo, tornando a Marcomânia e a Sarmácia duas novas províncias imperiais.
Contudo, a morte de Marco Aurélio em 180 e o encerramento da guerra por seu filho e herdeiro Cômodo deixou incompleto o desenho estratégico de Roma que previa supostamente um avanço do limes romano para englobar toda a área ao sul dos Cárpatos, uma linha hipotética que unia Vindobona até Troesmis.