A Cerâmica Sacoman S/A foi fundada em 1895 com o nome de Estabelecimento Cerâmico Saccoman Frères, no bairro do Moinho Velho, distrito do Ipiranga, São Paulo. Atualmente, o local onde ficava a indústria é o distrito do Sacomã.[1]
História
Por volta de 1886, chegaram a São Paulo, provenientes de Marselha, na França, os irmãos Antoine, Henri e Ernest Saccoman. Industriais de larga visão, conhecidos mundialmente pela produção e exportação das telhas Saccoman – Marseille, os três irmãos pretendiam fundar uma empresa no Brasil. Inicialmente se instalaram no bairro da Água Branca e lá ficaram um ano, fazendo experiências com a argila da região, que não se mostrou adequada para o que eles pretendiam. Mudaram-se para Osasco, mas também lá não encontraram a argila adequada.[1]
Em 1891 se associaram aos irmãos italianos Emídio, Panfilio e Bernardino Falchi para fundarem uma olaria na Vila Prudente. Ali encontraram a matéria prima adequada e começaram a produzir as telhas planas, conhecidas como telhas de Marselha, ou telhas francesas.[2] Eles foram os responsáveis pela popularização do que hoje conhecemos como telhas francesas, substituindo as "coloniais", que era feitas e moldadas nas pernas dos escravos.[3]
Em 1893 os irmãos Saccoman se instalaram em um galpão arrendado dos irmãos Falchi, situado onde hoje é a Rua do Manifesto, no Ipiranga, e começaram a fazer experiências com argila extraída nos terrenos do Moinho Velho, nas proximidades da Figueira das Lágrimas. O transporte da argila era feito em carros-de-boi, pela Estrada de Mato Grosso, hoje Rua Silva Bueno.[1]
Satisfeitos com os resultados obtidos com a argila da região, em 1895 eles adquiriram um terreno 10 alqueires no Moinho Velho, fundando então o Estabelecimento Cerâmico Saccoman Frères - Ipiranga.[4]
Pela alta qualidade apresentada, os produtos da Cerâmica Sacoman tiveram grande aceitação no país, rivalizando com os similares importados. Até então não se tinham telhas nacionais de boa qualidade e elas eram importadas para as construções. Foram utilizados na edificação da Estação da Luz; na construção da Igreja Nossa Senhora da Paz, da Rua do Glicério; no Edifício Sobre as Ondas, do Guarujá; e muitas outras edificações importantes de São Paulo.[4]
Em 1909, a empresa construiu um edifício, próximo à fabrica e que ficou conhecido como "castelinho". O edifício servia como residência da família Saccoman e, ao mesmo tempo, como mostruário dos produtos da indústria.[4] A mansão possuía quatro andares, pé direito alto e varandas com ornamentações Art Nouveau. Era muito grande, havia sete salões, dez quartos, cinco banheiros, uma cozinha e três copas. Como uma chácara, também tinha um vasto jardim, pomares e um lago natural. Ao fundo ficavam as casas dos funcionários, uma espécie de vilarejo.[5]
Em 1921, Antoine Saccoman, o mais velho dos três irmãos, faleceu. Logo depois, em 1923, Henri e Ernest Saccoman venderam a indústria para Américo Paschoalino Samarone, antigo funcionário que cresceu dentro da fábrica,[3] e voltaram para a França. Samarone também ficou com o "castelinho".[5] A partir de então, a empresa passou a se chamar Cerâmica Ypiranga S/A. Em 1939, a área ocupada inicialmente pela fábrica, foi modificada para a construção da Rodovia Anchieta.[4]
Em 1956 a indústria encerrou suas atividades. O local de onde a empresa retirava a argila transformou-se numa grande lagoa, que ficou conhecida como lagoa maldita por possuir quase dezenove metros de profundidade e vários banhistas terem se afogado nela.[5] Ela foi aterrada em 1960. O "castelinho" foi demolido em 1969 e quase nada, na região, lembra a existência dessa indústria ou das famílias Saccoman e Samarone, exceto o nome do bairro, Sacomã.[4]