David Lean nasceu em Croydon, Surrey, Inglaterra em 25 de março de 1908, filho de Francis Williams Le Blount Lean e Helena Annie Tangye e foi educado numa rígida disciplina na Leighton Park School, perto de Reading. Após um currículo escolar sem grandes méritos, abandonou os estudos, indo trabalhar com aprendiz do pai, contador juramentado; mas achou o ofício insuportável. Sempre que podia, refugiava-se no cinema local, onde se entusiasmava com os filmes silenciosos americanos, impressionando-se fortemente com Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse (1921) e Mare Nostrum (1926), ambos de Rex Ingram, diretor que admirava.[9]
Em 1927, aos 19 anos, candidatou-se a um emprego nos estúdios Gainsborough, sendo contratado por um período de experiência, sem receber salário. Um de seus primeiros encargos foi o de segurar a claquete (primeira intervenção em Quinneys de Maurice Elvey), passando sucessivamente a assistente de câmera e 3º assistente de direção. Lean queria aprender tudo e começou a assistir ao trabalho na sala de montagem. Ele aprendeu muito com o chefe do departamento de montagem, o americano Merrill White, que havia sido montador de Ernst Lubitsch em Hollywood. Sua reputação subiu ainda mais em 1938, quando trabalhou em Pigmalião do húngaro Gabriel Pascal, baseado na peça de Bernard Shaw e co-dirigido por Anthony Asquith e Leslie Howard. Um ano depois, esteve de novo com Asquith em Caçador de Corações/French Without Tears, adaptação da comédia de Terence Rattigan, e, subsequentemente, montou importantes filmes britânicos dos anos 1940 como Major Barbara (1941), 49th Parallel (1942) e One of Our Aircraft Is Missing (1942). No começo da guerra, fez amizade com Ronald Neame, o fotógrafo de Major Barbara, em quem encontrou grande afinidade.[9]
“
Nós acreditávamos que a câmera poderia conduzir a atenção dos espectadores para onde quisesse. Usávamos, Neame e eu, a mesma linguagem comum ao montador e ao cameraman
”
Lean recebeu várias propostas para dirigir filmes, todo eles “quota quickies”. Este foi o caminho que Michael Powell havia seguido e ele chegou ao topo rapidamente. Porém Lean rejeitou-os, temendo que a participação em filmes inferiores prejudicasse a sua carreira. A oportunidade de dirigir surgiu, quando o produtor criativo, Filippe Del Giudice persuadiu o consagrado teatrólogo das comédias sofisticadas e revistas musicais borbulhantes, Noel Coward, a realizar um filme para a sua companhia, Two Cities.[9]
Começo de carreira e consagração
Seu passo inicial como cineasta foi por meio da co-direção de Nosso Barco, Nossa Alma (1942), ao lado do escritor Noel Coward. Lean prosseguiu adaptando três peças de Coward: o inédito, This Happy Breed (1942), Uma Mulher do Outro Mundo (1945) e o delicado Desencanto (1945), com Trevor Howard e Celia Johnson, com quem havia trabalhado anteriormente em seus dois primeiros filmes. O grande autor inglês, Charles Dickens, foi a próxima fonte de inspiração para o diretor, que realizou Grandes Esperanças (1946) e Oliver Twist (1948). Em 1949, casou-se com a atriz inglesa Ann Todd – uma das seis esposas que teve em vida -, dirigindo-a em três filmes.[10]
A consagração de Lean veio a partir do final dos anos 1950, em que deu início à direção de suas mais bem sucedidas superproduções: A Ponte do Rio Kwai (1957), que lhe valeu o primeiro Oscar de direção, Lawrence da Arábia (1962), o segundo Oscar da categoria, e Doutor Jivago (1965), pelo qual foi novamente indicado ao prêmio.[10]
“
Filme é uma realidade dramatizada e é o trabalho do diretor torná-la real... o público não pode ter consciência da técnica.
David Lean recebeu, em 1984, o título de Cavaleiro do Império Britânico e faleceu no dia 16 de Abril de 1991, em Londres, pouco tempo antes de começar as filmagens de “Nostromo”, filme que seria baseado na obra homônima de Joseph Conrad.[11]
Vida pessoal
David Lean era um residente de longa duração de Limehouse, leste de Londres. Sua casa na Narrow Street ainda é propriedade da sua família. Seu co-roteirista e produtor Norman Spencer disse que o Lean foi um "enorme mulherengo" e "a meu conhecimento, ele tinha quase 1 000 mulheres".[12] Ele foi casado seis vezes, teve um filho, e pelo menos dois netos de quem ele estava completamente distante e era divorciado cinco vezes. Sua última esposa, foi a negociante de arte Sandra Cooke, a co-autora (com Barry Chattington) de David Lean: An Intimate Portrait.[13]
Leila Matkar (4 de Julho de 1960 - 1978) (O casamento de Lean de mais longa duração)[14][15]
Sandra Hotz (28 de Outubro de 1981 até 1984)
Sandra Cooke (15 de Dezembro de 1990 até 16 de Abril de 1991)
Reputação e influência
Lean é o diretor mais representado na lista da BFI dos 100 maiores filmes britânicos, tendo um total de sete filmes na lista. Como o próprio David Lean destacou, seus filmes são muitas vezes admirado por colegas e diretores como uma vitrine da arte do cineasta. Steven Spielberg e Martin Scorsese, em particular, são fãs dos filmes épicos de Lean, e já o citaram como uma de suas principais influências. Spielberg e Scorsese também ajudaram na restauração de 1989 de Lawrence da Arábia, que, após o lançamento, muito reviveu a reputação de Lean.