O árabe clássico, também conhecido como árabe corânico, é a forma do idioma árabe utilizada nos textos literários dos períodos omíada e abássida (do século VII ao IX). Foi baseado em grande parte do idioma medieval das tribos do Hejaz dos coraixitas (que contrastava com o falar de Négede e das áreas tribais circunvizinhas). O árabe moderno padrão é uma versão moderna, utilizada na escrita e em formas orais mais formais como, por exemplo, discursos e transmissões de rádio. Enquanto o léxico e a estilística do árabe moderno padrão são diferentes das do árabe clássico, a morfologia e a sintaxe sofreram poucas alterações. Os dialetos vernaculares, no entanto, mudaram de maneira mais dramática.[1]
Pelo fato do Alcorão ter sido escrito no árabe clássico, o idioma é considerado pela maioria dos muçulmanos como um idioma sacro, e uma língua divina.[2] É a única língua na qual os muçulmanos ortodoxos recitam as suas preces, independentemente do idioma que utilizam em suas vidas cotidianas.
O árabe clássico é tido frequentemente como o idioma pai de todas as variedades faladas do árabe; estudos recentes, no entanto, questionaram este ponto de vista, mostrando que outros dialetos existiam no século VII e podem ter sido a origem das variedades faladas atualmente.
História
O árabe era falado originalmente nas regiões do centro e norte da península Arábica. Com a expansão do islã, o árabe, como língua utilizada no Alcorão, se tornou um idioma de relevância tanto no meio religioso quanto no acadêmico, chegando em determinadas regiões antes mesmo da própria religião islâmica.[3] Sua relação com os dialetos modernos é análoga à relação entre o latim e os idiomas românicos, ou entre o chinês médio e as atuais línguas chinesas.
Morfologia
O árabe clássico é um idioma semítico e, portanto, tem diversas semelhanças tanto em termos de conjugação quanto pronúncia com o hebraico, o acádio, o aramaico e o amárico. O seu uso de vogais para modificar grupos de consoantes lembra construções semelhantes do hebraico bíblico.
Exemplo:
- kataba, ele escreveu
- yaktubu, ele escreve
- kitāb, livro
- kutub, livros (plural)
- maktaba, biblioteca
- miktāb, máquina de escrever
Todas estas palavras estão relacionadas de alguma maneira com a escrita, e todas contêm as três consoantes KTB. Este grupo de consoantes (k-t-b) é chamado de raiz. Segundo os estudiosos, esta raiz carrega consigo um significado básico de "escrita", que engloba todos os objetos e ações que envolvam a escrita e, portanto, todas as palavras acima são vistas como formas modificadas desta raiz, "obtidas" ou "derivadas", de alguma maneira, dela.
Fonologia
Existem três vogais curtas e três vogais longas no árabe clássico, sendo "A", "I" e "U" as que apresentam variações, como ilustra a tabela seguinte:
Assim como o árabe padrão moderno, o árabe clássico possui 28 fonemas consonantais:
- O /s/ não enfático pode ter sido, na realidade, [ʃ],[3] deslocando-se para a parte frontal da boca antes ou simultaneamente com a frontalização das palatais (ver abaixo).
- Por derivar do *g proto-semítico, o /ɟ/ pode ter sido uma velar palatalizada: /gʲ/
- O /l/ só é enfático ([lˁ]) em /ʔalˁːɑːh/, o nome de Deus, ou seja, Alá (Allah),[3] exceto antes de i ou ī, quando não é enfático: bismi l-lāh /bismillaːh/ ("em nome de Deus").
As consoantes tradicionalmente chamadas de "enfáticas", /tˤ, ɬˤ, sˤ, ðˤ/, sofrem velarização ([tˠ, ɬˠ, sˠ, ðˠ]) ou faringalização ([tˤ, ɬˤ, sˤ, ðˤ]).[3] Em alguns sistemas de transcrição, a ênfase é mostrada através da capitalização da letra, por exemplo, o /sˁ/ é escrito como ‹S›; já noutros, a letra é grifada ou recebe um sinal diacrítico (um ponto) embaixo dela, como em ‹ṣ›.
Ocorreram diversas mudanças fonéticas entre o árabe clássico e o árabe padrão moderno, entre elas:[3]
Referências
- ↑ Watson, Janet, The Phonology and Morphology of Arabic, Oxford University Press, 2002
- ↑ Alcorão, 16:113 e 20:103
- ↑ a b c d e f Watson, 2002
Ligações externas