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Libertinagem erudita

Cyrano de Bergerac, notório libertino da primeira metade do século XVII.

Libertinagem erudita (no francês libertinisme, libertinage) é uma categoria criada para agrupar uma tendência intelectual e cultural plural do fim do século XVII e início do século XVIII, além de um arranjo de autores de diversos estilos e ocupações - filósofos, poetas, médicos, acadêmicos. Possui inúmeras intersecções com o fenômeno de publicação e circulação de textos filosóficos clandestinos. Os termos libertino, libertinage, originalmente francês, que significava, no início do século XVII, "livre-pensador", assume gradativamente uma conotação pejorativa através de polêmicas que apresentam esses sujeitos como pessoas que rejeitavam a moralidade, com forte ênfase na sexualidade.[1] Etimologicamente, deriva-se em última instância da palavra latina libertinus, que significa "escravo liberto".[2] As sucessivas transformações semânticas do termo refletem os conflitos ideológicos que permeavam a sociedade europeia ocidental, expondo o impeto libertino no início do século XVI e seu posterior recuo diante do fortalecimento conservador, sendo quase que universalmente rejeitado no século XVIII, mesmo por pensadores materialistas.[3]

Apesar de sua heterogeneidade, a libertinagem é filosoficamente marcada pela crítica e subversão da tradição moral e religiosa, promovendo ideias céticas, materialistas, anti-metafísicas e anti-teológicas. O aspecto erudito dessa cultura se manifesta no amplo uso de referências antigas e renascentistas, citações e doxografias.[4] Teve por efeito revigorar o interesse por um número de autores latino, como Plutarco e Luciano, principalmente pela crítica da superstição em ambos, além de alçar pensadores como Epicuro, Lucrécio e Sexto Empírico à um novo grau de relevância filosófica enquanto alternativas ao aristotelismo escolástico.[4] Os autores libertanos promoveram reinterpretações da cultura antiga distintas da imagem estabelecida pelo humanismo, enfatizando o caráter ateísta, cético e materialista desse passado. [5] Entre as influências mais recentes, por outro lado, podem ser listados autores renascentistas como Pietro Pomponazzi, Maquiavel, Montaigne, Girolamo Cardano e Jean Bodin, como também Pierre Charron e Lucilio Vanini, antecessores diretos da primeira geração de libertinos.[6]

Lucilio Vanini

Ver artigo principal: Lucilio Vanini

La Mothe Le Vayer

Ver artigo principal: La Mothe Le Vayer

Gabriel Naudé

Ver artigo principal: Gabriel Naudé

Guy Patin

Ver artigo principal: Guy Patin

Referências

  1. Gregory 1998, p. 323.
  2. Delon 2001, p. 772.
  3. Delon 2001, p. 773.
  4. a b Gregory 1998, p. 325.
  5. Gregory 1998, p. 326.
  6. Gregory 1998, p. 327.

Bibliografia

  • Moreau, Isabelle (2005). «Libertinisme et philosophie». Revue de Synthèse. doi:10.1007/bf02970439 
  • Gregory, Tullio (1998). «'Libertinisme érudit' in seventeenth‐century France and Italy: The critique of ethics and religion». British Journal for the History of Philosophy. doi:10.1080/09608789808571001 
  • Tenenti, Alberto (1963). «Milieu XVIe, début XVIIe : libertinisme et hérésie». Annales. Economies, sociétés, civilisations: 1-19. doi:10.1007/bf02970439 
  • Benitez, Miguel; McKenna, Antony; Paganini, Gianni; Salem, Jean, eds. (2000). Materia actuosa - Antiquité, Agê classique, Lumières - Mélanges en l'honnour d'Olivier Bloch. [S.l.]: Honoré Champion 
  • Paganini, Gianni; Jacob, Margaret C.; Laursen, John Christian, eds. (2020). Clandestine Philosophy - New Studies on Subversive Manuscripts in Early Modern Europe, 1620−1823. [S.l.: s.n.] ISBN 978-1-4875-3054-9 
  • Delon, Michel, ed. (2001). Encyclopedia of the Enlightenment (em inglês). [S.l.]: Routledge. ISBN 978-1-579-58246-3 
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