Entrou para a história como "a rainha que morreu duas vezes", após lhe retalharem o ventre numa cesariana desastrosa.[3][4]
Primeiros anos
Nascida no Palácio Real de Queluz em 19 de maio de 1797, a infanta Dona Maria Isabel era a terceira filha de Dom João (futuro João VI de Portugal) e da infanta espanhola Dona Carlota Joaquina de Bourbon, filha de Carlos IV da Espanha. O casamento dos pais da infanta, apenas orquestrado pelo rei Carlos III da Espanha afim de promover os interesses espanhóis na corte lusitana, foi infeliz do início ao fim, devido à total incompatibilidade do casal; Dom João era passivo, afável, bem-humorado e sem ambições políticas, enquanto que Dona Carlota era impulsiva, apaixonada, teimosa e ansiosa em ter um importante papel político.[5]
Apesar das desavenças matrimoniais entre Dom João e Dona Carlota, a infância de Dona Maria Isabel não foi afetada, pois ambos, ao contrário do que era costume na realeza da época, eram atenciosos e afetuosos para com seus filhos.[5] Todavia, a vida da infanta foi drasticamente alterada quando da transferência da corte portuguesa para o Brasil em 1807[5]; durante a travessia do oceano Atlântico, Dona Maria Isabel, a mãe e irmãos foram obrigados a rasparem os cabelos e a usarem chapéus de musselina branca, devido a uma endemia de piolhos abordo.[6]
No Brasil, sua estadia caracterizou-se por uma cuidadosa educação supervisionada por sua mãe, na tranquilidade do Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em contato com outras raças e culturas e com uma atmosfera mais descontraída e liberal do que usualmente encontrava-se nas cortes europeias.[3]
Casamento
A necessidade de assegurar a sucessão à coroa espanhola fez com que o rei Fernando VII, irmão de Dona Carlota, procurasse arranjar o seu casamento e o de seu irmão Dom Carlos Maria Isidro com as suas sobrinhas as infantas portuguesas Dona Maria Isabel e Dona Maria Francisca, consequentemente.[7] Fernando VII confiou a negociação dos casamentos ao ministro Dom Miguel de Lardizábal y Uribe.[7]
O casamento por procuração entre Dona Maria Isabel e Fernando VII da Espanha foi firmado em 22 de setembro de 1816. Logo depois, a infanta, juntamente com a irmã Dona Maria Francisca fez a viagem de volta à Europa.[8] Embora a relação entre as irmãs fosse descrita como afetuosa, Maria Francisca herdara a ambição política de sua mãe e, em muitos aspectos ela era a antítese de sua irmã, mais calma em temperamento e sem aspirações de liderança.[8] Maria Isabel adquiriria una personalidade equilibrada, amável e introvertida, mais próxima como a de seu pai Dom João VI.[3]
O casamento do rei com uma infanta portuguesa não foi bem recebido pelo povo espanhol; no dia da chegada de Dona Maria Isabel em Madrid um poeta anônimo fixou um pasquim nos portões do Palácio Real que dizia: Pea, pobre y portuguesa ¡Chúpate esa!... (Feia, pobre e portuguesa. Chupe essa!).[9] Todavia, a relação entre Dona Maria Isabel e o tio e marido era amistosa, ela prontamente engravidou e o rei Fernando VII, para os caprichos da rainha, iniciou a restauração do Real Sítio do Bom
Retiro, salvando e consolidando o que não fora destruído pelos franceses e ingleses e erguendo construções como o Pabellón Persa, la Casita del Pescador ou la Montaña Rusa.[10]
Museu do Prado
Dona Maria Isabel destacou-se por sua cultura e afeição pela arte. Foi dela que partiu a iniciativa de reunir obras de arte dos monarcas espanhóis para criar um museu real, o futuro Museu do Prado, inaugurado em 19 de novembro de 1819, um ano após sua morte.[11][2]
Dona Maria Isabel de Bragança e seu tio Fernando VII tiveram duas filhas. Sua primeira filha, Maria Luísa Isabel, sobreviveu apenas três meses.[3] Logo após a morte de sua primogênita, a rainha, já debilitada, engravidou novamente, mas o parto foi difícil. O bebê estava na culatra e os médicos logo descobriram que a criança havia morrido. Maria Isabel parou de respirar logo depois e os médicos pensaram que ela estava morta; apesar dos protestos de sua irmã Dona Maria Francisca, que assistia o parto. Quando eles começaram a cortá-la para extrair o feto morto, ela de repente gritou de dor e caiu em sua cama, sangrando pesadamente.[3] Ainda hoje Dona Maria Isabel é recordada como "a rainha que morreu duas vezes".[3][4] Seu corpo está sepultado no Mosteiro de São Lourenço do Escorial, nos arredores da capital espanhola.
Títulos, estilos e honras
Títulos e estilos
19 de maio de 1797 – 29 de setembro de 1816: Sua Alteza Real, a Infanta Maria Isabel de Portugal
Observação: Princesas cujo título é questionando (ver: miguelismo) não estão nesta lista. A constituição da República Portuguesa proclamada em 1910 aboliu definitivamente todos os títulos de nobreza, de modo que somente princesas nascidas entre 1139 e 1910 estão listadas (1ª a 23ª geração);
*Também uma infanta da Espanha e arquiduquesa da Áustria **Também uma princesa do Brasil ^Também uma princesa de Saxe-Coburgo-Gota e duquesa na Saxônia