Neguinho morreu aos 54 anos em consequência de problemas cardíacos.[1].
Biografia
Era filho de Nilza Alves de Souza, lavadeira que morava no bairro popular do Largo do Tanque, e bem novo ele já usava as bacias da mãe para batucar, obrigando-a a reforçar os fundos com madeira, pois Neguinho as "furava de tanto batucar"; seu pai, Jacinto de Souza ("Seu Cici"), era ogã do candomblé e tocava bongô; Neguinho nasceu na região do Dique do Tororó, mas cresceu na Lagoa do Meio, no Largo do Tanque.[2][3]
Foi na metade da década de 1970 que Neguinho trocou o bloco de índio por aquele que é o primeiro bloco afro do carnaval baiano, do qual foi um dos fundadores: o Ilê Aiyê, ali sendo diretor de bateria e compositor por onze anos.[2]
Com a permanência do bloco afro fiel às tradições rítmicas, e mudou para o Olodum onde, em 1983, foi convidado a reger sua bateria; foi nesta época que ganhara o apelido a partir de um fato prosaico, que ele narrou assim: "Um dia eu parei em frente ao Bar do Reggae com um carro cheio de instrumentos e aí um amigo disse: você é o Neguinho do samba mesmo, né, rapaz? Aí pegou."[2]
No Olodum, com plena liberdade de trabalho, ele inseriu modificações nos instrumentos que integram os grupos típicos de samba, propôs novas formas de percussão, fazendo assim a renovação do ritmo; na época o Pelourinho era um reduto de Reggae, o que certamente influenciou a mudança de batida que Neguinho introduziu, sendo ele um dos seus criadores; a este respeito assinala Goli Guerreiro: "...apesar do consenso construído em torno de Neguinho do Samba e do papel fundamental que ele teve, não se pode creditar a um só músico a invenção do samba-reggae. O ritmo, sem dúvida, resulta de um variado caldeirão musical...".[2]
Entre seus discípulos Neguinho era tratado com verdadeira reverência; no dizer de Guerreiro, era uma "quase entidade"; sobre seu dom Neguinho lhe declarou: "Eu tenho uma coisa que só os deuses podem responder pra mim. Esses ritmos eu não sei como acontecem, acho que tinha chegado o momento, e só o universo pode dizer por quê".[2]
Após gravar com Paul Simon, o músico lhe ofereceu um carro importado como presente, mas este preferiu trocar o presente por uma casa no Pelourinho, onde passou a morar e instalou a sede da "Escola Didá".[4]
Além da música trabalhou como eletricista, ferreiro e foi camelô; teve sete filhos.[4]
Morte
Portador de cardiopatia, três meses antes de sua morte Neguinho havia perdido uma irmã e, por isso, estava deprimido; familiares disseram que reclamava da saúde há duas semanas; durante a madrugada de sábado, dia 31 de outubro de 2009, ele passou mal na sua casa e foi levado a um posto de saúde no bairro de Pernambués, onde foi liberado após receber medicação; na tarde do mesmo dia voltou a passar mal, vindo a falecer.[4]
Neguinho foi velado na sede da Associação Educativa e Cultural Didá, no Pelourinho, sendo o velório prestigiado por centenas de fãs, além de seus amigos e familiares; foi sepultado no dia seguinte à sua morte, no Cemitério Jardim da Saudade.[1][5]
A Secretaria de Cultura de Salvador decretou luto oficial por três dias, e suspendeu as atividades culturais desenvolvidas no Pelourinho.[1] Uma faixa preta foi estendida, em luto, no Terreiro de Jesus.[4]
Legado e reconhecimento
Sobre a importância de seu legado a antropóloga Goli Guerreiro afirma: "Desde os anos 80, a música da Bahia está ligada ao seu nome, ao seu ouvido, aos seus gestos (...) Neguinho do Samba é a espinha dorsal desta forma de produzir som que renovou a musicalidade baiana (...) Certamente nem é possível mensurar todos os feitos do Maestro, mas a presença das mulheres no mundo da percussão é uma das suas conquistas mais vigorosas."[2]
João Jorge, presidente do Olodum, declarou: "Foi uma perda irreparável. Não perdemos somente um músico excepcional, mas uma personalidade. Ele foi muito generoso com todos à sua volta. Não dá para acreditar. É um astro que vai continuar vivo aqui com a gente“.[4]
O cantor Gerônimo registrou: "Ele deixou um legado, uma marca de como se faz samba na Bahia. Eu acompanhei o processo de desenvolvimento do Olodum e ele já experimentava as novas fusões do reggae com o samba. Depois, acompanhei o trabalho cultural que ele fez com a Banda Didá. E por ironia do destino faleceu dentro da própria escola".[4]
Já em 2010 um dos blocos independentes realizou uma homenagem ao músico, no "Circuito Batatinha" do carnaval soteropolitano, da qual participaram Tonho Matéria, Anderson Souza, Mestre Jackson e a Banda Didá.[6]
Em 16 de novembro de 2016 o Centro Cultural Solar Ferrão realizou evento em sua homenagem, que contou com palestra da jornalista Viviam Caroline, apresentação das meninas do Didá e exposição dos instrumentos criados por Neguinho. Na época Viviam ressaltou o grande trabalho social realizado pelo músico baiano, que salvara "centenas de vidas".[3]