A Eriobotrya japonica[1], comummente conhecida como nespereira[2] (não confundir com a espécie Mespilus germanica, que consigo partilha este nome), é uma espécie de árvore, da subfamília Maloideae, da família das Rosáceas, pertencente ao tipo fisionómico dos microfanerófitos. Para se distinguir da sua congénere europeia, também lhe costumam chamar nespereira-do-japão[3], pese embora seja originária do sudeste da China.[1]
Nomes comuns
Esta espécie dá ainda pelos seguintes nomes comuns: magnório[4] (também grafada manganório[5] ou magnólio[6]) e biba no português de Macau[7].
Os frutos desta espécie além do nome comum geral nêspera[8], dão ainda pelos seguintes nomes comuns regionais: magnório[9] (bem como as já mencionadas variantes gráficas manganório[10] e magnólio[11]) em certas regiões do Norte de Portugal; biba[12], no português de Macau; em certas partes do Brasil dá pelo nome regional ameixa-amarela[13] (não confundir com a subespécie da ameixa comum, a Prunus domestica subsp. Syriaca, que também dá por este nome[14]) ou ameixa-de-inverno em regiões do Sul do Brasil.
Taxonomia
A Eriobotrya japonica foi descrita primeiro por Carl Peter Thunberg, sob a designação Mespilus japonica em 1780, tendo-se transferido para o género Eriobotrya às mãos John Lindley, na publicação de 1821 da «Transactions of the Linnean Society of London».[15]
O nome genérico, Eriobotrya, deriva da aglutinação dos vocábulos gregos antigos εριο (erio), que significa «lã», e βοτρυών (botrys), que significa «racimo, cacho», portanto, por atacado pode traduzir-se por «cacho lanudo»[16], o que será uma alusão às inflorescências destas plantas que são particularmente tomentosas, é dizer, estão revestidas de penugem.[17]
O epíteto específico, japonica, por sua vez, provém do latim e trata-se de uma alusão ao país que, no séc. XIX, se julgava ser a região de origem desta espécie, o Japão.[18]
Do que toca aos nomes comuns:
O substantivo «nespereira», deriva de «nêspera»[19], palavra que, por seu turno, entra na língua portuguesa por via do baixo latim, nespĭra ounespĭla[20], que por sua vez são corruptelas do latim clássico mespĭlu[21], por dissimilação do «m» em «n», o qual entrou no latim por via do grego clássico μέσπιλον (méspilos)[22].
O substantivo «biba», por seu turno, provém do nome chinês枇杷 (pi-po)[23], que designa o mesmo fruto.[7] Este substantivo, por seu turno advém do étimo 琵琶 (pípá guǒ), que signfica «de formato oval; de formato semelhante à pipa».[7]
O substantivo «magnório» (e as respectivas variantes) tem origem incerta, crendo-se que possa ser uma deturpação do substantivo «magnólia».[4]
Trata-se de uma árvore pequena ou arbusto grande de folha perene, pautada pela coloração verde e pela penugem felpuda acastanhada dos galhos. Dispõe de uma copa circular que pode chegar até a um metro de comprimento e de um tronco curto, que pode crescer entre os 5 e os 10 m de altura.[25]
Do que toca às folhas, são simples, podendo medir entre 10 a 25 centímetros de comprimento, sendo que o formato pode alternar entre o obovado e o elíptico-oblongas, têm a face enrugada, uma textura que lembra couro e uma coloração verde-escura.[26]
Conta ainda com panículas terminais compactas, guarnecidas flores brancas, que são ulteriormente sucedidas pelos frutos: as nêsperas.[26]
As nêsperas, em rigor, são drupas e caracterizam-se pelo formato piriformes ou elipsóides[26], podendo alcançar até 4 centímetros em diâmetro[27]. Quando amadurecem adquirem uma coloração amarela, destacando-se pelo mesocarpo carnudo e suculento.[26] Uma vez que conta, geralmente, com uma ou mais sementes grandes e duras pode ser considerada um fruto nuculâneo.[28]
Distribuição
É originário do Sudeste da China, pelo que o seu habitat natural são os bosques paleotropicais.[1] Sem embargo, hodiernamente, é cultivada no resto do mundo, seja por causa do fruto[26], seja como planta ornamental.[25]
Cultivo
A nespereira é uma planta dada a regiões subtropicais e temperadas, pautadas por Invernos muito amenos.[25] Nas regiões tropicais, pode ser cultivada a elevações superiores a 600 metros, se bem que a altitude que oferece as condições opimas de cultivo nos trópicos se situa entre os mil e os dois mil e trezentos metros.[25]
As regiões com amplitudes térmicas que se cingem entre os 21 e os 27 graus Celsius, costumam ser as que proporcionam as melhores condições, tendentes ao crescimento desta planta.[25] Porém, a nespereira, ainda assim é capaz de medrar em regiões com amplitudes térmicas que maiores, tolerando temperaturas mínimas de 9 graus Celsius e máximas de 36 graus Celsius.[25] Com efeito, quando dormente, a nespereira consegue, inclusive, resistir a temperaturas baixas, na ordem dos 12 graus negativos, se bem que as flores e os rebentos das folhas não costumam sobreviver a temperaturas inferiores a um grau negativo.[25]
As nespereiras preferem regiões com níveis de pluviosidade anual na ordem dos 600 a 1.600 milímetros, embora seja capaz de tolerar níveis de pluviosidade mais modestos, na ordem dos 400 a 4.000 milímetros anuais de chuva. [25]
Também privilegiam os solos férteis e pouco húmidos, com boa exposição solar ou pouca sombra, contanto que o substracto não seja muito calcário.[29][27] É capaz de tolerar solos secos.[27] No que respeita ao PH do solo, os valores ideais rondam entre os 5.5 e os 6.5, embora a nespereira seja capaz de tolerar solos mais ácidos, até aos 4.5, e mais básicos, até ao 8.[27]
As regiões à beira-mar costumam produzir os frutos de melhor qualidade[29], sendo certo que a nespereira prefere estar resguardada das nortadas e ventos frios, que possam correr vindos do mar.[27]
Uma nespereira adulta, salvo em casos de maus anos agrícolas, mercê de geadas na época de floração, costuma produzir fruto todos os anos.[25] Com efeito, a tendência das nespereiras é para ficarem sobrecarregadas de fruto, o que amiúde pode levar a que as nêsperas não desenvolvam tamanhos muito significativos.[25] Por causa disto, há a prática agrícola de destruir parte dos frutos, ainda por amadurecer, por molde a fazer com que os frutos restantes adquiram tamanhos maiores, compensando assim o prejuízo inicial dessa destruição.[25]
Sementio
A semente deve vir de um fruto maduro e deve ser plantada ainda húmida.[27] As sementes compradas em loja, devem ser demolhadas durante 24 horas antes do plantio.[30]
A germinação ocorre, geralmente, cerca de 1 a 4 meses depois, posto que as temperaturas gerais se mantenham por volta dos 20 graus Celsius.[31] Quando grandes o suficiente, os rebentos podem ser envasados e ou transplantados.[27]
Usos
Agroflorestal
No âmbito do sistema agroflorestal, as nespereiras, mercê da copa frondosa e do tronco curto e compacto, podem oferecer sombra e servir de corta-vento a outras espécies.[25] As grandes e fibrosas folhas da nespereira são boas para fazer compostagem.[25]
Cosmética
Por outro lado, as flores da nespereira têm efeitos repelentes contra insectos, sendo também usadas, no âmbito da cosmética, para a confecção de perfumes.[32]
Carpintaria e marcenaria
O cerne da madeira da nespereira tem uma coloração castanho-arroxeada, com veios escuros, que contrastam com a tonalidade clara da madeira.[33] Tem uma textura lisa, pouco dada a irregularidades e com pouca tendência para lascar, mostrando-se apta a ser polida.[33] Mesmo depois de trabalhada, por vezes, costuma reter alguma fragrância natural.[33] É uma madeira rija, que pode alternar entre peso-médio e peso-pesado.[33]
É adequada à confecção de postes, materiais de desenho e pintura e é muito cobiçada no âmbito da luteria.[33]
Medicina
As folhas das nespereiras têm propriedades analgésicas, antibacterianas, antieméticas, antitússicas, antivirais, adstringentes, diuréticas e expectorantes.[34][35][36] O decocto das folhas ou dos rebentos viços chegou a ser usado como mezinha com propriedades adstringentes intestinais[34] e como elixir bucal, para combater as aftas.[37] Este decocto também foi usado na medicina tradicional oriental para o tratamento da bronquite, tosse convulsa e resfriados.
Na preparação destes decoctos era retirada a penugem acastanhada que pode revestir as folhas e os rebentos, de maneira a evitar irritações da garganta.[37]
Às flores da nespereira, por sua vez, atribuem-se propriedades expectorantes.[38]
A nêspera, por seu turno, é um ingrediente popular na confecção de mezinhas antitússicas no Extremo Oriente.[37] Com efeito, este fruto tem propriedades ligeiramente adstringentes, expectorantes e mesmo sedativas.[34][38]
Chegou a ser usado historicamente para atenuar os efeitos dos enjoos e vómitos.[38]
Gastronomia
A nêspera pode ser consumida crua, cozinhada ou em conserva.[39] Tem um sabor adocicado, com um travo ligeiramente ácido.[27] Quando aberta, a nêspera trescala um odor bastante fragrante. Pode ser consumida em tartes, molhos e geleias.[29]
A semente da nêspera, apesar de amarga se consumida crua, pode ser usada na confecção de certas bebidas e bolos, se for cozinhada, porquanto adquire um travo amendoado[40]. Com efeito, quando torrada, exibe propriedades estimulantes similares às do café.[41][42]
↑Dirr, Michael A. (2006). The Reference Manual of Woody Plant Propagation: From Seed to Tissue Culture. Portland, Oregon, USA: Timber Press. 410 páginas. ISBN1604690046
↑ abcChopra, R. N; Nayar, S. L; Chopra, I. C; Asolkar, L. V; Kakkar, K. K; Chakre, O. J; Varma, B. S; Council of Scientific & Industrial Research (India) (1956). Glossary of Indian medicinal plants ; [with] Supplement (em inglês). New Delhi: Council of Scientific & Industrial Research. OCLC499428255