Octave Mirbeau nasceu em Trévières, na Normandia em 16 de fevereiro de 1848,[2] filho de uma família de posses, sendo seu pai médico de profissão. Passou a infância em Rémalard, no Perche, vindo a estudar no colégio jesuíta de Vannes. Após os conflitos de 1870 Mirbeau acompanha os martírios aos quais são submetidos os communards pela Terceira República Francesa, e diante dos ocorridos passa a contestar tanto o estado como a elite da qual fazia parte.
Sua estreia como jornalista se dá a serviço dos bonapartistas e seu debute literário (L'Écuyère, 1882, La Belle Madame Le Vassart, 1884) como "negro", nome que adotaria como pseudônimo logo após as grandes mudanças de 1884-1885. A essa época coloca sua pluma a serviço de seus próprios valores éticos e estéticos, combinando literatura e política. Suas obras se caracterizam por seu anticlericalismo e seu antimilitarismo. Foi um personagem comprometido com todas as lutas de seu tempo em busca de justiça social.
Entusiasta do anarquismo e ardente deyfusista, encarna o protótipo de intelectual comprometido com os assuntos públicos de sua época, assumindo como dever primordial desmistificar as instituições que alienam e oprimem. Nesta tarefa buscou constituir uma estética da revelação que levasse a lucidez, capaz de obrigar os voluntariamente cegos a encararem a realidade das injustiças do mundo. Combateu a sociedade burguesa e a economia capitalista, fazendo frente a formas literárias e estéticas tradicionais que contribuíam para anestesiar consciências, rejeitou o naturalismo, o academicismo e o simbolismo, buscando seu caminho entre o impressionismo e expressionismo.
Logo após escrever dez romances como "negro" (ghost writer), oficialmente estreia com o exitoso Le Calvaire (O Calvário) (1886), romance em que se liberta dos traumas de uma paixão devastadora por uma mulher não muito santa chamada Judith Vinmer e rebatizada Juliette na ficção.
Em 1888 publica L'Abbé Jules (O Padre Júlio) no qual através de dois personagens fascinantes - o abade Jules e o padre Pamphile - recorre à psicologia de profundidade e sob a influência de Fiódor Dostoiévski escreve aquele que seria considerado o primeiro pré-freudiano da literatura francesa.
Em Sébastien Roch publicado em 1890, Mirbeau busca superar os efeitos traumáticos das experiências como estudante adolescente entre os jesuítas de Vannes. Dando um tom ficcional a fatos verídicos o autor descreve a violência sofrida por ele e por outras crianças de sua idade sob os 'cuidados' dos jesuítas, transgredindo um tabu que perduraria ainda por uma centena de anos ao denunciar o estupro de crianças e adolescentes por sacerdotes.
Crise do romance
Octave Mirbeau passa então por uma grande crise existencial e literária e no curso desta publica em edição de folhetim uma novela pré-existencialista extraordinária chamada Dans le ciel (No Céu), a qual tem como personagem central um pintor inspirado diretamente na figura de Van Gogh.
Após a conclusão do caso Dreyfus - responsável pela exacerbação de seu pessimismo - Mirbeau publica três romances que seriam julgados "escandalosos" pelos auto-intitulados defensores dos parâmetros da virtude.
Em seus dois últimos romances - La 628-E8 (1907) e Dingo (1913), Mirbeu se afasta do realismo, dando espaço para elementos de fantasia elegendo seu carro e seu próprio cachorro como heróis. Devido a intermitência de suas filiações de gênero, ambas histórias mostram o quão completamente Mirbeau rompera com as convenções da ficção realista.
O teatro de Mirbeau
No teatro Mirbeau alcançou fama com uma tragédiaproletáriaLes Mauvais bergers (Os maus pastores) ainda em 1897, e depois em 1903, tornou-se conhecido mundialmente com uma comédia clássica de costumes na tradição de Molière: Les affaires sont les affaires (Negócios são negócios) na qual aparece o personagem Isidoro Lechat, o arquétipo do moderno homem de negócios, produto de um mundo novo, ancestral dos Bernard Tapie e dos Berlusconi, que em tudo busca fazer dinheiro e expandir seus tentáculos pelo mundo. Em 1908, ao fim de uma longa batalha judicial e midiática, apresenta a comédia francesa Le Foyer (O lar), uma obra destinada ao escândalo que transgrede outro tabu: a exploração econômica e sexual de adolescentes em lugares de suposta caridade...
Com o início da Primeira Guerra Mundial em 1914, Octave Mirbeau se converteu em um pacifista desesperado que sozinho denunciava a aberração criminosa da violência das guerras nas quais os pobres morriam para que os ricos pudessem ficar ainda mais ricos. Morreu após nove anos de doenças constantes no mesmo dia em que completava 69 anos, em 16 de Fevereiro de 1917. Foi sepultado no Cemitério de Passy, Paris na França.[3]
Glória póstuma
Mirbeau nunca foi completamente esquecido tendo suas obras publicadas continuamente em mais de trinta línguas. No entanto, apesar de sua imensa produção literária, seu trabalho tem sido injustamente reduzido a apenas três de suas obras, e ela tem sido considerada política e literalmente incorreta, atravessado um amplo período de incompreensão por parte dos autores de manuais e estudiosos da história da literatura.
Mais recentemente Mirbeau tem sido redescoberto e lido sob uma nova perspectiva. Uma nova apreciação de sua obra bem como de seu importante papel de envolvimento e desenvolvimento da cena política, literária e artística da Belle Époque.