A Ponte Rainha D. Amélia, também conhecida por Ponte D. Amélia, é uma antiga ponte ferroviária portuguesa, que foi convertida para uso rodoviário. Foi inaugurada em 14 de Janeiro de 1904, como parte da Linha de Vendas Novas[1] tendo sido substituída em 2001 pela Nova Ponte D. Amélia.
As peças metálicas da ponte foram feitas pela fábrica Fille Lilles, que também construiu as pontes de Muge e da Vala da Azambuja.[2] A construção das peças foi supervisionada pelo engenheiro Audouard, que tinha uma boa reputação neste tipo de projectos.[3]
O projecto original, datado de 1901, descreve a ponte como estando assente sobre treze pilares e dois encontros, formando catorze vãos de 60 m, totalizando 840 m.[4]
O contra-vento foi previsto inferior e horizontal, e a sobrecarga utilizada baseou-se no peso de uma locomotiva e o seu tender correspondente.[4] O coeficiente de resistência para os banzos foi calculado em 9, e, para as rotundas e carlingas, 7,5, tendo o coeficiente de trabalho adoptado ao lançamento sido de 9.[4] O cálculo dos momentos de flexão foi efectuado segundo o método de Clapeyron, e a curva involtória dos máximos momentos foi determinada pela construção das parábolas dos momentos, as secções transversais das madres, e os seus respectivos momentos de inércia e módulos de resistência.[4] A viga foi verificada pelo processo do engenheiro Xavier Cordeiro.[4]
Pilares e encontros
Os pilares, fundados a ar comprimido, com caixões de ferro preenchidos com formigão hidráulico composto por pedra calcária da quinta Sub-Serra, de Alhandra,[3] deveriam ter 10 m acima da água, de forma a ultrapassar os níveis reportados nas cheias de 1876, que fizeram as águas subir cerca de 5 m.[4]
As alturas do soco, do fuste e do capitel são correspondentemente de 1,50, 8,065 e 0,50 m; a espessura junto ao soco é de 3,064 m e no colo de 2,50 m, com um jorramento de 0,035 m.[3] O paramento das faces planas é composto por fiadas de enxilharia, tendo o revestimento sido construído com silhares e juntouros; o revestimento dos talhantes de secção semi-circular foi feito com cantaria de almofadado rústico, e os encontros, de alvenaria hidráulica.[3] Os cunhais e cimalha são compostos por cantaria, feita de calcário cinzento azulado das pedreiras de Rio de Mouro.[3] A construção dos pilares e dos encontros foi executada pelo engenheiro Reynaud.[3]
Tabuleiro
A viga do tabuleiro, em aço macio, em quádrupla rótula reforçada com prumos nos nós, encontra-se fixa no pilar central, podendo dilatar-se para os dois extremos, sobre os rolos respectivos; as duas madres, com 6,717 m de altura, encontram-se distanciadas a 5,040 m, e ligadas entre si por meio de contraventamentos, de forma a reforçá-las e evitar a sua deformação.[3] O tabuleiro, inferior, inclui carlingas com 5,040 m de largura e que se distanciam 3,333 m entre si, e que estão travadas por longarinas, situadas a intervalos de 1,8 m.[4]
História
Planeamento, construção e inauguração
Esta estrutura veio substituir uma ponte de carácter provisório, de metal e madeira, que tinha sido construída aproveitando peças de uma antiga ponte da Linha do Norte, sobre o Rio Vouga.[5]
Foi esboçada pelo engenheiro António de Vasconcellos Porto em 1901,[4] tendo a primeira estaca sido batida em Julho de 1902, como acto cerimonial para o início da construção da ponte.[6] Nos finais desse ano, as peças para o primeiro tramo já se encontravam a caminho de Lisboa, vindas das oficinas da sociedade Fille Lilles,[7] e nos inícios do ano seguinte já tinha sido entregue o quinto pilar.[8] Em Abril, já tinham sido colocados oito pilares e montadas três tramos do tabuleiro,[9] e em Setembro, já se previa que a ponte estaria concluída em Novembro desse ano.[10] Em Outubro, já tinham sido corridos os 11º e 12º tramos, encontrando-se em construção os dois seguintes,[11] e no mês seguinte, já tinha sido instalada a via desde a ponte até à Estação de Vendas Novas.[12] Em Dezembro, já se tinham iniciado as inspecções de via em toda a Linha de Vendas Novas, tendo a abertura ao serviço sido prevista para 1 de Janeiro.[13]
Na altura da sua construção, a Ponte Rainha D. Amélia era considerada a mais extensa da Península Ibérica, para caminho de ferro.[3] O autor foi elogiado pelo Conselho Técnico de Obras Públicas, devido à perfeição com que elaborou este projecto.[4] À inauguração, a 14 de Janeiro de 1904, assistiu o rei D. Carlos, esposo da patrona.[1] A Linha de Vendas Novas, entre Setil, na Linha do Norte, e Vendas Novas, na Linha do Alentejo, entrou ao serviço em 15 de Janeiro de 1904.[14]
Adaptação para uso rodoviário
Após a construção na década de 1980 de uma nova ponte ferroviária, que a substituiu, a reafectação desta ponte para uso rodoviário local foi repetidamente reclamada; no verão de 1996, o então secretário de Estado das Obras Públicas, Crisóstomo Teixeira, prometeu a obra para 1997.[1] Previa-se em finais de 1996, ainda em fase de estudos, que a circulação fosse em via única semaforizada, estando por averiguar a capacidade de carga para trânsito pesado.[1] As câmaras envolvidas, Cartaxo e Salvaterra de Magos, previam gastar respetivamente 14 M$ e 18 M$ em acessos.[1]
Em 2001 foi finalmente alvo de obras e reconvertida para tráfego automóvel e pedonal, ligando deste modo, Muge, no concelho de Salvaterra de Magos, e Porto de Muge, no concelho do Cartaxo, bem como a localidade de Valada, que, antes desta ligação, ficava frequentemente isolada em períodos de cheia[1].
Reabilitação em 2022
Em 2022, está a ter obras de reabilitação nos pilares num investimento de 1.7 Milhões de euros que visam “reforçar as condições de integridade dos pilares da ponte e a protecção das suas fundações contra os efeitos da erosão provocada pela corrente do rio”.
A empreitada, na ponte consiste na “limpeza das superfícies dos pilares e encontros, selagem das juntas entre pedras de alvenaria dos pilares”, e “protecção da base dos pilares […] com recurso a cofragens metálicas e microbetão submerso”, a par da “substituição dos aparelhos de apoio sobre o pilar P13 e encontro E2”, entre outros.
Esta obra é da responsabilidade da IP, que gere o equipamento em parceria com os municípios de Salvaterra de Magos e Cartaxo.[15]
↑ abcdefJorge TALIXA: “Cartaxo-Salvaterra: Reconversão da Ponte Dona Amélia avança” Público(1996.12.13): p.56
↑«Linhas Portuguezas». Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (350). 16 de Julho de 1902. p. 218. Consultado em 6 de Junho de 2012 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
↑ abcdefghPORTO, Vasconcellos (16 de Novembro de 1903). «Sant'Anna a Vendas Novas»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (382). p. 375-376. Consultado em 6 de Junho de 2012 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
↑ abcdefghi«A Ponte Sobre o Tejo»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (337). 1 de Janeiro de 1902. p. 6-7. Consultado em 6 de Junho de 2012 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
↑SIMÕES, Oliveira (16 de Agosto de 1902). «Excursão de Engenharia»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (352). p. 241-243. Consultado em 6 de Junho de 2012 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
↑«Linhas Portuguezas»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (351). 1 de Agosto de 1902. p. 234. Consultado em 6 de Junho de 2012 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
↑«Linhas Portuguezas»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (360). 16 de Dezembro de 1902. p. 403. Consultado em 6 de Junho de 2012 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
↑«Linhas Portuguezas»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (363). 1 de Fevereiro de 1903. p. 43. Consultado em 6 de Junho de 2012 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
↑«Linhas Portuguezas»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (368). 16 de Abril de 1903. p. 136. Consultado em 6 de Junho de 2012 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
↑«Linhas Portuguezas»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (378). 16 de Setembro de 1903. p. 320-321. Consultado em 6 de Junho de 2012 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
↑«Linhas Portuguezas»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (380). 16 de Outubro de 1903. p. 352. Consultado em 6 de Junho de 2012 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
↑«Linhas Portuguezas»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (381). 1 de Novembro de 1903. p. 368. Consultado em 6 de Junho de 2012 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
↑«Linhas Portuguezas»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (384). 16 de Dezembro de 1903. p. 416. Consultado em 6 de Junho de 2012 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
↑«Companhia Real»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 17 (426). 16 de Setembro de 1905. p. 283. Consultado em 6 de Junho de 2012 – via Hemeroteca Digital de Lisboa