O SN Álvaro Alberto é um projeto de submarino nuclear de ataque, desenvolvido pela Marinha do Brasil e que se encontra em fase de construção, sob responsabilidade da Itaguaí Construções Navais (ICN). Faz parte do Programa de Desenvolvimento de Submarinos, inserido na parceria estratégica firmada entre a França e o Brasil em 2009, que também incluiu a transferência total de tecnologia e o apoio à construção de quatro submarinos convencionais da Classe Riachuelo, derivados da Classe Scorpène.[2]
O projeto do submarino nuclear da Marinha data da década de 1970, mais precisamente entre 1976 e 1978. Foi decidido que o país deveria obter os três processos vitais para a energia atômica.[7] O primeiro ponto foi o domínio do ciclo do combustível nuclear, conhecido internamente como o "projeto Ciclone." Em segundo lugar, o desenvolvimento de um reator nuclear para uso nos submarinos, o "projeto Remo." Como terceiro ponto, o desenvolvimento do conhecimento para projetar e construir um casco para acomodar o reator em desenvolvimento, o "projeto Costado."[7][8]
Domínio do ciclo de combustível
O início do projeto para o domínio do ciclo do combustível e reator nuclear ocorreu em 1979, quando a Marinha ingressou no IPEN-SP (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares de São Paulo), onde passou a atuar num dos mais ambiciosos programas no país até ao momento. Em 1982, a Marinha conquistou a sua primeira grande vitória ao adotar a técnica de ultracentrifugação para enriquecimento e conhecer a tecnologia do hexafluoreto de urânio, em Poços de Caldas, Minas Gerais. No mesmo ano, os pesquisadores do projeto realizaram o enriquecimento isotópico de urânio com centrífugas totalmente construídas no Brasil.[7][8]
Para apoiar as atividades experimentais do programa de pesquisa e desenvolvimento do ciclo do combustível e reatores nucleares, foi construído no estado de São Paulo o Centro Experimental Aramar (CEA),[7] que abriga instalações de testes e laboratórios de validação experimental. Também é responsável pelo enriquecimento de urânio em pequena escala industrial, mas suficiente para abastecer reatores nucleares de pesquisa existentes no país. Num período de aproximadamente vinte anos o país adquiriu o ciclo do combustível nuclear e pôde iniciar a construção do reator nuclear naval.[7][8]
Reator nuclear naval
Em 2014, após muitos anos e uma série de problemas, atrasos no financiamento federal e congelamentos de programas, o primeiro reator naval de testes nucleares foi construído em terra, no Centro Experimental de Aramar, com o objetivo de viabilizar os processos tecnológicos, industriais e operacionais da energia nuclear em instalações aplicáveis à propulsão de embarcações.[9][10]
Casco de submarino
No início do projeto, em 1979, a Marinha desconhecia os processos de construção de casco de um submarino. Primeiro foi necessário adquirir novos e modernos submarinos que pudessem ser feitos no Brasil. Os primeiros submarinos eram da classe Tipo 209 de origem alemã (que seria no Brasil a Classe Tupi). Em 1982, o país assinou contratos para a construção de cinco novos submarinos da Marinha, quatro deles em território brasileiro, no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro. O país também investiu na modernização das suas instalações e na capacitação da indústria nacional, bem como na qualificação humana.[8]
Em 2009, o Brasil comprou à França quatro submarinos ampliados da classe Scorpène com propulsão convencional por um valor de US$ 10 bilhões, com um acordo total de transferência de tecnologia, dando ao país o conhecimento para o projeto e construção de modernos cascos.[11] A primeira embarcação brasileira da classe, o S Riachuelo, foi lançado no dia 14 de dezembro de 2018.[12][13]
O projeto foi iniciado em 2012, pelo Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB), tendo a base de Itaguaí, no Rio de Janeiro, como ponto de desenvolvimento e fabricação de submarinos. De 2010 a 2012, um grupo de trinta e um engenheiros, vinte e cinco oficiais e seis funcionários civis recebeu treino e instrução teórica pela DCNS, em Cherbourg. Em 2018, mais de quatrocentos engenheiros brasileiros trabalharam na equipe do projeto do submarino nuclear, originalmente formado pelo grupo que recebeu treinamento na França.[13][14]
Racional estratégico
O programa de modernização da Marinha do Brasil prevê o desenvolvimento e construção de seis submarinos SSN.[15] Na doutrina brasileira, a razão de ser da estratégia de defesa nacional é o desenvolvimento da capacidade de dissuasão estratégica contra "qualquer força hostil" ao território nacional terrestre ou marítimo.[16] O país entende que, com a sua futura frota nuclear, pelo menos algumas das suas armas serão capazes de sobreviver ao primeiro ataque (nuclear ou não nuclear) de um inimigo e evitar novas tentativas de agressão.[17]
Outra justificativa é apoiar a defesa da chamada Amazônia Azul,[18] uma área rica em recursos que cobre cerca de 4 500 000 km2 (1 700 000 sq mi) ao largo da costa brasileira. Esta área é a zona econômica exclusiva do país, lar de uma enorme diversidade de espécies marinhas, valiosos minerais metálicos e outros recursos minerais, petróleo e a segunda maior reserva de terras raras do mundo.[19][20]
Política nuclear brasileira
O país tem uma política de não armas nucleares desde a década de 1990.[21] No entanto, especialistas do Laboratório Nacional de Los Alamos concluíram que o Brasil desenvolveu capacidade tecnológica para colocar em campo armas nucleares, caso essa política mude,[22] usando centrífugas como a Fábrica de Combustível Nuclear de Resende para produzir urânio altamente enriquecido para esse tipo de armamento.[23][24] Em vez disso, o país optou por trabalhar no desenvolvimento de uma frota de submarinos nucleares.[7][18]
Características
O Álvaro Alberto tem muitas semelhanças com o seu antecessor convencional da classe Scorpène. O primeiro submarino nuclear brasileiro terá uma boca de 9,8 m (32 ft) para acomodar o reator nuclear de água pressurizada (PWR).[7] Tem ainda 100 m (330 ft) comprimento e um deslocamento de 6 000 toneladas, que serão impulsionados por um sistema de propulsão totalmente elétrico com uma potência de 48 MW (64 000 hp).[25]
As vantagens de um SSN em relação a um SSK com propulsão convencional são maior velocidade e autonomia muito mais longa, podendo ficar meses sem necessidade de reabastecimento, evitando emergir periodicamente para a superfície, não comprometendo sua furtividade.[26][27]
↑ abcd«O Prosub e o submarino nuclear brasileiro SN-BR». Poder Naval - Navios de Guerra, Marinhas de Guerra, Aviação Naval, Indústria Naval e Estratégia Marítima. 20 de fevereiro de 2018. Consultado em 4 de outubro de 2021
↑ ab«Programas da MB em 2019: PROSUB». Poder Naval - Navios de Guerra, Marinhas de Guerra, Aviação Naval, Indústria Naval e Estratégia Marítima. 12 de janeiro de 2020. Consultado em 4 de outubro de 2021