Wuthering Heights (traduzido para português como O Morro dos Ventos Uivantes, O Monte dos Vendavais ou ainda Colina dos Vendavais), lançado em 1847, foi o único romance da escritora britânicaEmily Brontë. Hoje considerado um clássico da literatura inglesa, recebeu fortes críticas no século XIX.
Teve várias adaptações para a televisão e para o cinema, uma delas sendo dirigida pelo cineasta britânico A. V. Bramble. Na música, originou um álbum do grupo musical Genesis: Wind and Wuthering: o título do álbum é uma alusão a Wuthering Heights, e a faixa "Afterglow" aos personagens Heathcliff e Catherine. Também inspirou uma canção de sucesso, "Wuthering Heights", composta e interpretada por Kate Bush para o álbum The Kick Inside, de 1978, e posteriormente regravada pela banda Angra, em seu álbum Angels Cry, de 1993.
Enredo
O locatário da propriedade de Granja da Cruz dos Tordos, localizada em Gimmerton, Yorkshire, fica adoentado. Durante este período, a governanta Ellen Dean, chamada de Nelly, conta-lhe a história que presenciou da propriedade do Morro dos Ventos Uivantes.
No início da trama, o patriarca da família Earnshaw faz uma viagem e, ao retornar, traz consigo um pequeno órfão, que todos acham ser um cigano (sua procedência, contudo, não é revelada em hora alguma da narrativa). O órfão recebe o nome de Heathcliff. Rapidamente, toda a atenção que o patriarca lhe demonstra enciuma seu filho legítimo, Hindley, que acha que está perdendo o carinho do pai. Contudo, Catherine, a irmã de Hindley, se afeiçoa por Heathcliff.
Quando o Sr. e a Sra. Earnshaw morrem, Hindley sujeita Heathcliff a várias humilhações. Este é privado da educação e passa a tornar-se bruto e melancólico. Apesar do amor entre Heathcliff e Catherine, ela decide casar-se com Edgar Linton, por estar em uma posição de mais prestígio que Heathcliff.
Heathcliff parte do Morro dos Ventos Uivantes e, ao voltar, está rico, chamando a atenção de Catherine e despertando ciúmes em Edgar. Catherine e Edgar têm uma filha, Cathy. Catherine, no entanto, morre um dia depois de dar à luz. Heathcliff fica devastado e decide vingar-se de Edgar e de Hindley. Para fazê-lo, primeiro, casa-se com Isabella, irmã de Edgar. Isabella é sujeita aos maus tratos do esposo e, com o tempo, lamenta ter se casado com Heathcliff. Descobrindo-se grávida, decide abandoná-lo. Enquanto está longe, tem um filho, Linton.
Hindley cai no vício do jogo e da bebida e perde todos os seus bens para Heathcliff. Consequentemente, Hareton, filho de Hindley, fica sem herança. Apesar disso, ele vê Heathcliff como um exemplo.
Antes da morte de Edgar, Heathcliff casa Linton e Cathy. Ela descobre-se sem bens quando Linton morre e Heathcliff apresenta um testamento onde seu filho lhe passava tudo que possuía. Pensando já ter se vingado, Heathcliff percebe nos últimos descendentes das casas da Granja da Cruz dos Tordos e do Morro dos Ventos Uivantes o olhar de seus antepassados e a paixão entre os dois, morrendo sozinho em sua loucura e solidão. Como último desejo, é enterrado junto com Catherine, seu grande amor. Deste dia em diante, muitos juram ver sempre um casal vagando pelas charnecas do Morro.
Personagens
Heathcliff
Heathcliff é o personagem central da trama. No início da história, é adotado pelo patriarca dos Earnshaw, aos sete anos de idade. Posteriormente, é caracterizado como passional, atormentado e vingativo, sentimentos tão fortes em sua personalidade que beiram a loucura. Maltratado, desprezado e humilhado desde a morte do Sr. Earnshaw, tornou-se um reles criado e é, ainda, proibido de ver Catherine. Ao saber do noivado de sua amada com seu rival Edgar, Heathcliff deixa o Morro dos Ventos Uivantes; retorna anos mais tarde, rico e com sede de vingança por ter sido privado do amor da sua vida, Catherine. Por isso, quer destilar seu ódio sobre todos os que considera culpados por seu sofrimento, sentimento que se intensifica após a morte de Catherine. Não contente em retaliar seus contemporâneos, vinga-se também da geração seguinte, mais precisamente dos filhos de Catherine e de Hindley (apesar de ser considerado um pai para este, Hareton).
Ele é considerado como um arquétipo do herói byroniano, cuja paixão é tão intensa que chega a destruir a si mesmo e aos outros a seu redor.
Catherine Earnshaw
Jovem mimada, de espírito livre, ama Heathcliff tanto quanto ele a ama, mas, por questões financeiras, decide casar-se com Edgar Linton. Anos mais tarde, após o retorno de Heathcliff, as constantes disputas dos dois homens por seu amor a deixam debilitada mental e fisicamente. Ela morre ao dar à luz sua única filha.
Ela é um dos personagens mais complexos da trama, pois fica dividida entre o amor e o dinheiro.
Catherine Earnshaw também é descrita como uma pessoa de temperamento explosivo. Crises de choro, sentimentos intensos e flutuações de humor também são características típicas da personagem. Assim como seu amado Heathcliff, ela é uma pessoa passional em demasia. Ela também demonstra uma grande dificuldade em controlar suas emoções, possuindo acessos de fúria incontroláveis. Cathy (como é chamada) é uma personagem paradoxal, pois, ao mesmo tempo que é descrita como amável e sensível, é descrita como uma pessoa agressiva e delirante. Os seus sentimentos são muito intensos e uma angústia assola a sua alma. Cathy dizia sentir "dores" no coração e admitia que seu sangue fervia com facilidade.
Características psicológicas de Catherine Earnshaw:
Magoava-se com facilidade;
Passional;
Mudanças súbitas de humor;
Obstinada e incompreensiva;
Histrionismo — essa intolerância à indiferença é demonstrada por inúmeras passagens do livros. O trecho a seguir elucida esta característica:
"O teu sangue-frio não consegue ficar febril; corre-te nas veias água gelada,mas nas minhas está o sangue a ferver, e ver tanta frieza à minha frente deixa-me desvairada". — Catherine Earnshaw;
Cathy era uma personagem que vivia no limite entre a normalidade e a loucura. Seus súbitos ataques de choro e sua dificuldade em controlar suas próprias emoções a levavam a características repletas de distúrbios psíquicos.
—Estou às portas da loucura, Nelly! Essa exclamação de Cathy elucida sua personalidade limítrofe.
Edgar Linton
Edgar Linton é o marido de Catherine Earnshaw, e alvo da retaliação de Heathcliff. Pai de Catherine Linton, e irmão de Isabella Linton, tem características opostas a Heathcliff, mostrando uma personalidade gentil, mansa e de saúde frágil.
Morre pouco depois que sua filha Cathy casa-se com o filho de Heathcliff e Isabella Linton.
Isabella Linton
Isabella Linton é irmã de Edgar Linton e se torna, ao longo da história, esposa de Heathcliff. Isabella teve um filho com o Sr. Heathcliff chamado Linton, que, depois da morte da mãe, vai morar com o pai em Wuthering Heights.
Hindley Earnshaw
Irmão de Catherine Earnshaw, pai de Hareton Earnshaw, e nêmesis de Heathcliff, desde que seu pai o trouxe para casa. Ao longo da trama, passa a viver uma vida degradante e miserável, tornando-se um alcoólatra após a morte de sua esposa, Frances. Heathcliff quer vingar-se pelas crueldades que ele lhe fez durante a infância.
Ellen "Nelly" Dean
Ellen é a principal narradora da história e a testemunha de todos os acontecimentos. Geralmente chamada de “Nelly”, é a criada de Catherine e Hindley. Personagem inspirada na fiel serviçal de Emily Brontë, Tabhyta.[2]
Hareton Earnshaw
Filho de Hindley e sua esposa Frances. Ao longo do romance, ele faz planos para casar com Catherine Linton, por quem se apaixonou. É rude e ignorante. Não sabe ler, tampouco escrever. Porém, seu amor por Cathy (que acaba por ajudá-lo em sua alfabetização) faz com que ele aprimore sua educação.
Catherine Linton
Também conhecida como "Jovem Catherine" ou Cathy Linton, é a filha de Edgar Linton e Catherine Earnshaw e, a despeito dos desejos de vingança de Heathcliff, casa com Linton Heathcliff, filho de Heathcliff com Isabella Linton. Depois do falecimento de Linton Heathcliff, casa-se com Hareton Earnshaw, salvando o nome dos Earnshaw e restabelecendo o equilíbrio perdido da história.
Linton Heathcliff
Filho de Isabella Linton e Heathcliff, que o faz casar com Cathy Linton. De saúde extremamente frágil, é leviano, pensa apenas em si próprio (apesar de dizer que ama Cathy) e teme seu pai. Cathy descobre-se sem bens, quando seu marido Linton morre e Heathcliff, para concretizar sua vingança, apresenta um testamento onde seu filho lhe passava tudo quanto possuía.
Frances Earnshaw
De família e origens desconhecidas, Frances é a esposa de Hindley Earnshaw e mãe de Hareton. Frances morre ao dar à luz o filho. Quando viva, Cathy (sua cunhada, irmã de Hindley) a julga vulgar por portar-se de forma indecente, porém esses pensamentos tendem a mudar com o tempo. Nelly a julga boba em sua chegada na casa, além de reparar na saúde frágil da moça.
1771: Heathcliff é trazido para "Wuthering Heights" por Mr. Earnshaw.
1773: Mrs. Earnshaw morre (primavera).
1774: Hindley vai para o colégio.
1777: Hindley casa-se com Frances; Mr. Earnshaw morre e Hindley volta (outubro); Heathcliff e Catherine visitam "Thrushcross Grange" pela 1ª vez; Catherine volta para "Wuthering Heights".
1778: Hareton nasce (junho); Frances morre.
1780: Heathcliff parte de "Wuthering Heights"; Mr. e Mrs. Linton morrem.
1783: Catherine casa com Edgar (março); Heathcliff volta (setembro).
1784: Heathcliff casa com Isabella (fevereiro); Catherine morre e Cathy nasce (20 de março); Hindley morre; Linton nasce (setembro).
1797: Isabella morre; Cathy visita "Wuthering Heights" e conhece Hareton; Linton vem para "Thrushcross Grange" e "Wuthering Heights".
1800: Cathy encontra Heathcliff e vê Linton novamente (20 de março).
1801: Cathy e Linton casam (agosto); Edgar morre (agosto); Linton morre (setembro); Mr. Lockwood vai para Thrushcross Grange e visita "Wuthering Heights", iniciando a narrativa.
1802: Mr. Lockwood volta para Londres (janeiro); Heathcliff morre (abril); Mr. Lockwood volta para "Thrushcross Grange" (setembro).
1803: Cathy planeja casar com Hareton (1º de janeiro).
Interpretação Psicológica
Interpretação Freudiana
A interpretação a seguir é de Linda Gold[carece de fontes?].
Pela teoria freudiana, Catherine seria o ego, Heathcliff, o id, e Edgar, o superego. Heathcliff (id) exterioriza impulsos primitivos; o id não é afetado pelo tempo, o qual parece não existir. Catherine (ego) relaciona-se com outras pessoas, testa o id contra a realidade. Edgar (superego) representa as regras do bom comportamento e da moral.
Catherine rejeita Heathcliff por uma avaliação realista que ela faz de seu possível futuro com ele e das vantagens de um futuro com Edgar. Ela opta pela segurança do superego em detrimento da obscuridade do id. Mas, para uma pessoa ser completa, ela necessita não só de seu ego e superego, mas também do id. Então ela espera que Edgar aceite Heathcliff em suas vidas, o que levaria à integração de sua personalidade. Quando seus planos não funcionam, ela perde a esperança em que seu desejo se torne realidade; sua personalidade fica fragmentada. Ela morre.
A filha de Catherine, Cathy Linton, seria uma continuação da primeira, isto é, mãe e filha representam o desenvolvimento de uma personalidade. Sua filha consegue o que ela não conseguiu: unir id, ego e superego, através de seus dois casamentos.
Uma outra interpretação : Por que o Morro/Charneca?
O morro ou a Charneca na história, por sua frivolidade representa a loucura e a insanidade do amor, como descrito pelo professor Chargllium[carece de fontes?].
Adaptações
A mais antiga adaptação de Wuthering Heights foi filmada na Inglaterra, em 1920, e dirigida por A. V. Bramble.[3]
A mais famosa filmagem é a de 1939, estrelando Laurence Olivier e Merle Oberon, sob a direção de William Wyler. Essa adaptação elimina a segunda geração da história (jovem Cathy, Linton e Hareton). Em 1939, venceu o New York Film Critics Circle Award como melhor filme, e foi indicado ao Oscar de melhor filme.
O filme de 1970, com Timothy Dalton como Heathcliff, foi a primeira versão colorida do romance, e é interessante pois supõe que Heathcliff pode ser meio-irmão ilegítimo de Cathy. O caráter de Hindley é retratado de maneira mais simpática, e a história é alterada.
Em 1978 foi lançada pela BBC uma minissérie, estrelada por Ken Hutchison (como Heathcliff) e Kay Adshead (como Catherine).
Em 1998 foi lançado mais um filme, dirigido por David Skynner, com Robert Cavanah e Orla Brady como protagonistas e ainda a participação de Matthew Macfadyen como Hareton Earnshaw. Versão muito interessante, em que o casal Cathy (Linton) e Hareton é destacado de maneira bela e doce.
Outras adaptações interessantes da história incluem a do espanhol Luis Buñuel em 1954, com Heathcliff e Cathy renomeados como Alejandro e Catalina. Em 2003, a MTV produziu uma versão na moderna Califórnia, com personagens como colegiais.
O romance tem sido popular em ópera e cinema, ressaltando as óperas escritas por Bernard Herrmann e Carlisle Floyd (ambos fixando a primeira metade do livro) e um musical de Bernard J. Taylor, com uma canção de Kate Bush.
Em 1993, uma banda brasileira de power metal, Angra, fez um diferente arranjo da canção de Kate Bush, Wuthering Heights, dando à música uma harmonização mais pesada com as guitarras e lançou no seu album Angels Cry.
No outono de 2008, Mark Ryan lançou uma dramatização musical narrada por Beowulf e Ray Winstone. Ele também dirigiu o video para a canção "Women", com Jennifer Korbee, Jessica Keenan Wynn e Katie Boeck.
Em agosto de 2009, ITV levou ao ar uma série em duas partes, estrelando Tom Hardy, Charlotte Riley, Sarah Lancashire, e Andrew Lincoln.[4]
A primeira tradução no Brasil, com o título Morro dos Ventos Uivantes, foi feita em 1938, por Oscar Mendes, então da Editora Globo.[6] Tradução essa que, em vários pontos, difere do original — No nono capítulo, por exemplo, há o trecho de uma antiga balada dinamarquesa, traduzida para o Scots como The Ghaist's Warning (O Aviso do Fantasma), que em tal tradução é substituída por uma canção infantil popular portuguesa (Chô Chô Pavão). A balada original, que traduzida seria "Era tarde da noite e as crianças choravam; a mãe debaixo da terra aquilo ouviu (...)", faz uma alusão à fala de Nelly quando Hindley joga Hareton escada abaixo "Não me admira que a mãe dele não levante da cova", e sendo substituída faz a passagem perder o sentido.
Em Portugal, publicado como O Monte dos Vendavais, com tradução de Fernando de Macedo, Lisboa: Inquérito, 1940 (Coleção Os Melhores Romances dos Melhores Romancistas, nº 6), com várias edições posteriores.
O Monte dos Vendavais, tradução de Maria Fernanda Cidrais, Porto: Civilização (Coleção Popular, nº 40), com edições em 1955, 1960, 1977 (Coleção Clássicos Civilização, Autores Ingleses).
Monte dos Vendavais, tradução de Leyguarda Ferreira, Lisboa: Romano Torres, 1957 (2ª edição), 1964 (3ª edição, Coleção Obras Escolhidas de Autores Escolhidos, nº 25).
O Monte dos Ventos Uivantes, tradução Maria Franco & Cabral do Nascimento, foi publicado pela Portugália Editora, em 1966 (Coleção Os Romances Universais, nº 35); pela Mem Martins: Europa-América, 1971 (2ª edição), 1988 (Coleção Livros de Bolso Europa-América, nº 10); pela Lisboa: Círculo de Leitores, em 1971, 1973, 1980; pela Lisboa: Relógio d’Água, em 2007.
A Editora Abril, em 1971, lançou "Os Imortais da Literatura Universal", em que o Morro dos Ventos Uivantes foi o 10º volume, utilizando a tradução de Oscar Mendes, sob licença da Editora Globo. Vale ressaltar que, nessa tradução, os nomes de alguns personagens são diferentes. A irmã de Edgar Linton não se chama Isabella e sim Isabel. Não vemos o nome de ambas Catherine, e sim Catarina. A esposa de Hindley é Francisca e não Frances, e por fim Ellena "Nelly" Dean é Helena.
O Alto dos Vendavais, tradução Ana Maria Chaves, Lisboa: Dom Quixote, 1993 (1ª edição, Coleção Ficção Universal, nº 140),[7] 1999 (2ª edição). A mesma tradução de Ana Maria Chaves, como O Monte dos Vendavais, com narração de Raimundo João Queirós Lopes, foi publicada pela Mem Martins: Europa-América, 1997 (2ª edição), Coleção Clássicos, nº 23,[8] e pela Alfragide: Gailivro, em 2010. Em 1994, a tradução de Ana Maria Chaves, sob o título A Colina dos Vendavais, foi publicado pela RBA Editores.
O Monte dos Vendavais, tradução de Fernanda Pinto Rodrigues, Lisboa: Presença, 2009 (Coleção Obras Literárias Escolhidas, nº 9).
O Monte dos Vendavais, tradução de Ana Ribeiro, Matosinhos: Book.it, 2011 (Coleção Clássicos da Literatura Universal).
O Morro dos Ventos Uivantes, tradução Solange Pinheiro, São Paulo: Martim Claret, 2014/2018. Esta tradução respeita o idioleto de Yorkshire das personagens, e é resultado da dissertação de mestrado (FFLCH-USP) da tradutora[9]
Referências
↑A primeira tradução de Morro dos Ventos Uivantes foi feita em 1938, por Oscar Mendes, então da Editora Globo. In: HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: EdUSP, 2005, acesso on line O Livro no Brasil: sua história
↑CIVITA, Victor. Os Imortais da Literatura Universal. São Paulo: Abril Cultural, p. 70