A Linha do Corgo é uma linha de caminho-de-ferro desactivada, que unia as localidades de Chaves e Régua, em Portugal. Foi inaugurada em 12 de Maio de 1906, com a chegada do comboio a Vila Real, e concluída a 28 de Agosto de 1921, com a chegada a Chaves.[1] O troço entre Vila Real e Chaves foi encerrado em 1990,[2] enquanto que a ligação entre a Régua e Vila Real fechou para obras em 25 de Março de 2009,[3][4] sendo definitivamente encerrada pela Rede Ferroviária Nacional em Julho de 2010.[5][6]
Descrição
Material circulante
Durante muitos anos, o material circulante utilizado na linha foi composto por locomotivas a vapor rebocando carruagens muito primitivas, com bancos em madeira. Este material circulante recordava os passageiros do que era retratado nos filmes sobre o Velho Oeste americano, motivo pelo qual os comboios era conhecidos por Texas.[7]
A linha atingia, na sua totalidade, uma extensão de 71,400 Km, sendo totalmente em bitola métrica.[10]
Troço entre o Ribeiro de Varges e Pedras Salgadas
Segundo o plano aprovado em 1905, o lanço entre o Ribeiro de Varges e Vila Pouca media, exactamente, 14.076,40 m, sendo 3803,16 m em curva, com um desnível de apenas 73 m; este traçado apresentava-se muito menos sinuoso do que o primeiro da Linha do Corgo, tendo apenas quarenta curvas, tendo cinco um raio de 80 m, e 14, de 100 m.[11] A extensão das vias em patamar era de cerca de 5 Km, sendo 976,40 m em declive, e o traçado restante em rampas de reduzida inclinação, excepto três; uma situava-se imediatamente antes da estação de Vila Pouca, que media 25 milímetros em 580 m, outra tinha 20 mm por 580 m, e a terceira apresentava 19 mm em 560 m.[11] Todas as outras rampas no troço tinham 2 a 10 mm de inclinação.[11] Em termos de obras de arte, este troço incluía numerosos sifões e aquedutos, dois pontões, com 6 e 4 m de comprimento, e duas pontes metálicas, uma sobre a sobre a Ribeira de Tourencinho, e outra sobre o Rio Corgo.[11] Depois de Vila Pouca, a linha segueia o vale do Rio Avelâmes até à povoação de Pedras Salgadas.[11]
Já o lanço de Vila Pouca de Aguiar a Pedras Salgadas caracteriza-se como mais difícil do que o anterior; com efeito, para descer de Vila Pouca de Aguiar até às proximidades de Pedras Salgadas, a via tem de vencer 151,60 m em 7,200 km, o que corresponde a uma inclinação média de 22 mm.[11] A via faz, logo a Norte da localidade de Vila Pouca, um lacete, de reduzidas dimensões, uma vez que as vertentes na margem do Rio Avelâmes não eram propícias para este traçado.[11] Assim, o troço apresentava, segundo o plano aprovado em 1905, 63 curvas, totalizado 3037,77 m; 29 com cerca de 75 m de raio, doze de 80 m, e onze de 100 m.[11] Entre as curvas de sentidos opostos, apenas foi necessário deixar, num ponto, um alinhamento de 21,28 m.[11] O perfil da linha demonstrava três patamares, um de 340 m no extremo da estação de Pedras Salgadas, e dois com 160 m cada um; o traçado restante, com 6540 m de extensão, era em rampa, com inclinações entre os 22 e 23 mm, excepto um, de 16 mm em 260 m.[11] Apenas num pequeno declive de 500 m é que foi necessário ultrapassar o limite de 25 mm de inclinação.[11] Em termos de obras de arte, só foi preciso construir alguns aquedutos, e uma passagem inferior de 3 m; neste troço, só estava projectada uma estação, de segunda classe, em Pedras Salgadas, estando prevista a instalação de um apeadeiro ao PK 3,500, para servir as localidades de Vila Meã (freg. São Tomé do Castelo), Sampaio e Nuzedo.[11] A estação de Pedras Salgadas ficou situada entre a Estrada Real e a Estrada Municipal de acesso ao estabelecimento balnear.[11]
O troço do Ribeiro de Varges e Pedras Salgadas media exactamente 21.276,40 m, dos quais 14.435 14.435,47 eram em alinhamento recto, enquanto que 6.840,93 eram em curva; a extensão dos alinhamentos rectos variava entre os 21,28 e os 1.511,25 m, enquanto que das 103 curvas, 29 eram de 75 m, dezoito de 80 m, 28 de 100 m, sete de 150 m, nove de 200 m, seis de 300 m, quatro de 500 m, e duas de 1000 m.[11] Os onze patamares totalizavam 5.660 m, os nove declives 7.516,40 m, e as nove rampas 8.100 m.[11] Nas rampas contavam-se 2.140 m a 2 mm, 820 m a 6 mm, 1.480 m a 9 mm, 1.140 m a 10 mm, 560 m a 19 mm, 580 m a 20 mm, e 1080 m a 25 mm.[11] Para as terraplanagens, seriam feitas 183.451,820 m³ de escavações, ou 8.622 m³ por metro corrente.[11] Deste valor, 15.679,800 m³ foram empréstimos, e 14.274,660 m³ foram depósitos.[11] Nas escavações, a rocha branda seria de 20%, enquanto que a dura teria 38%.[11]
Obras de arte
Ao longo da linha existiam várias obras de arte, incluindo:
Ponte de Tourencinho
Esta ponte, de construção metálica, apresenta oito metros de comprimento, sendo constituída por uma viga de alma cheia, sobre encontros de alvenaria.[11]
Esta obra de arte atravessa o Rio Corgo junto a Vila Pouca de Aguiar, e tem um tabuleiro com cerca de 20 m de comprimento e 2 m de altura, de rótula, com o tabuleiro inferior em vale muito aberto.[11] Cada uma das avenidas tem 15 m de comprimento.[11]
Ponte do Corgo (Linha do Douro)
Esta ponte insere-se no troço entre as Estações de Régua e Pinhão da Linha do Douro, que foi inaugurado a 1 de Junho de 1880.[12]
Em Setembro de 1878, o engenheiro e estadista João Crisóstomo de Abreu e Sousa apresentou um relatório sobre o transporte ferroviário em Portugal, onde estava projectada uma linha de Bragança a Beja, passando pela foz do Rio Sabor.[14]
Esta linha foi planeada desde o Século XIX, como forma de ligar as estâncias termais de Vidago e Pedras Salgadas, e as importantes localidades de Vila Pouca de Aguiar, Vila Real e Chaves à Linha do Douro.[1][15]
Depois de várias tentativas e concursos infrutíferos,[1][15] o governo decidiu construir esta linha por sua própria conta, através da operadora estatal Caminhos de Ferro do Estado.[16] As obras iniciaram-se em 1903,[17] tendo o primeiro troço, de Régua a Vila Real, sido inaugurado em 12 de Maio de 1906.[1][18]
A linha chegou às Pedras Salgadas em 15 de Julho de 1907, a Vidago a 20 de Março de 1910, a Tâmega em 20 de Junho de 1919, e a Chaves em 28 de Agosto de 1921.[1]
Em 1 de Janeiro de 1990, foi encerrado o troço entre Chaves e Vila Real, alegadamente para a realização de obras de reparação, mas não chegou a reabrir.[19] O resto da Linha, entre Vila Real e Régua, ficou sem serviços, invocando motivos de obras, em 25 de Março de 2009,[3][4] tendo sido definitivamente suprimida nos finais de 2011.[20] Os serviços de autocarros, que tinham sido criados para substituir os comboios nesta linha, terminaram no dia 1 de Janeiro de 2012.[21][22] Em março de 2012 a Linha do Corgo foi removida formalmente, pela entidade reguladora, da rede em exploração.[23]
Movimento Cívico pela Linha do Corgo
O Movimento Cívico pela Linha do Corgo, ou simplesmente MCLC, é um grupo de cidadãos que pretende promover e divulgar a Linha do Corgo tanto na região onde esta se insere como fora desta, através da informação sobre as condições da via, sua história e necessidades da população por ela servida.
Acompanhando as várias notícias sobre a Linha do Corgo, e reivindicando e apresentando soluções aos autarcas dos vales do Corgo e do Alto Tâmega, promoveu já uma concentração na estação de Vila Real pela reabertura tanto do troço Régua - Vila Real como do restante troço até Chaves, que contou com a presença de cerca de cem populares da região, servidos pela Linha do Corgo, incluindo ex-ferroviários e ferroviários no activo.
↑TEIXEIRA, Augusto César Justino (1 de Setembro de 1903). «Evora a Ponte de Sôr»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (377). Lisboa. p. 295-297. Consultado em 3 de Janeiro de 2015 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa
↑«Parte Official». Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (366). Lisboa. 16 de Março de 1903. p. 84 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa
↑«Linhas Portuguezas»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (377). Lisboa. 1 de Setembro de 1903. p. 304. Consultado em 9 de Dezembro de 2023 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa
BARRETO, António; et al. (2017). Judith Borges, ed. Caminho-de-Ferro: Gente e Memórias. [S.l.]: Clube do Coleccionador dos Correios / Correios de Portugal. ISBN978-972-8968-88-5 !CS1 manut: Uso explícito de et al. (link)
REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN989-619-078-X
Legenda:bitolas: ²2140 mm • ᴮ1668 mm • ⁱ1435 mm • ¹1000 mm • ³920 mm • ⁹900 mm • ⁶600 mm +designações abreviadas quando possível (fonte para linhas da Infraestruturas de Portugal: [1]: pág. 54) °ferrovias pesadas (#) não geridas pela Infraestruturas de Portugal (e/ou empresas antecessoras) †extinta (totalmente) • ‡projectada • ††reaberta • †‡reabertura projectada • ‡†projecto abandonado • ‡‡projecto recuperado • ↑substituída mantendo traçado/canal