No Sitio arqueológico da Furna do Estrago, em Brejo da Madre de Deus foi descoberta uma importante necrópolepré-histórica, com 125 metros quadrados de área coberta, de onde foram resgatados 83 esqueletos humanos em bom estado de conservação além de várias pinturas rupestres; estes vestígios ajudaram a desenvolver pesquisas sobre rituais fúnebres, a alimentação, a cultura e a religiosidade de grupos de caçadores e coletores que viveram na região a aproximadamente 10 mil anos.[8][9][10]
Os indivíduos encontrados na Furna do Estrago possuíam uma cultura adaptada à caatinga. O clima da região ajudou a conservar esqueletos de crianças e adultos e pedaços de cérebro.[11] Dentre os 83 esqueletos destaca-se o de um homem de aproximadamente 45 anos que foi enterrado com uma flauta feita de tíbia humana entre os braços. Não se sabe para que o instrumento era usado. Uma das teorias é de que o indivíduo poderia ser uma espécie de vigia, que avisava a população por meio do som. Também foram encontrados apitos no cemitério.[12][13][14]
A análise dos restos mortais comprova que esses povos eram bem alimentados, praticavam a antropofagia, fabricavam a tecelagem a partir das fibras de palmeiras da região e possuíam uma divisão social relativamente acentuada.[15][16] Este sítio foi escavado durante duas campanhas de campo, a primeira em 1983 e a segunda em 1987, sob a responsabilidade da arqueóloga Jeannette Maria Dias de Lima da Universidade Católica de Pernambuco.[17][18]
O povoamento do Brejo da Madre de Deus tem suas origens em 1710 quando o português André Cordeiro dos Santos estabeleceu-se na localidade que chamou de tabocas construindo ali um engenho de açúcar. O mesmo nome foi dado a um rio que passava nas extremidades, o Rio Tabocas.[19]
O nome Brejo provém de sua situação em um vale formado pelas serras da Prata, do Estrago e do Amaro; e Madre de Deus é devido aos evangelizadores oratorianos, da confraria da Madre de Deus do Recife, mais conhecidos como da Congregação de São Filipe Néri que adentraram-se pelo interior da capitania, seguindo o curso do Rio Capibaribe e estabeleceram-se num local que hoje fica a quinze quilômetros da sede municipal. Ali, iniciaram a construção de um hospício mas, como naquele ano houve uma grande seca, resolveram mudar-se do lugar e foram para o Sítio Brejo de São José, também conhecido como Brejo de Fora, edificando então, em 1752, uma capela dedicada a São José. O povoamento da área está relacionado com a criação de gado nos meados do século XVIII, com a rota de passagem que ligava Olinda a Cabrobó através dos rios Capibaribe, Pajeú e o São Francisco e, posteriormente com a cultura do algodão a partir da década de 1780.
A partir da capela, a povoação que já parecia existir antes dela, passou a se denominar Brejo da Madre de Deus, evoluindo até tornar-se a sede municipal. Em 1760, a Congregação de São Filipe Néri doou meia légua de terras para o patrimônio da capela, área essa que corresponde ao atual perímetro urbano. A elevação à categoria de freguesia ocorreu em 1797 sendo o primeiro vigário, o padre Antônio da Costa Pinheiro. Em 3 de Agosto de 1799 foi constituído como distrito.
Século XIX
No início do século XIX a povoação pertencia a Vila de Cimbres, devido a localização e o clima o Brejo era um lugar prospero, tanto é que abrigava a residência dos Ouvidores da comarca do sertão e de autoridades militares.[20]
Em 1823 ocorreu a primeira tentativa de elevar o povoado a categoria de vila, naquele ano foram enviadas duas representações a Assembleia Geral Constituinte, eram assinadas por Manuel Joaquim Cerqueira, Francisco Xavier Pais de Melo Barreto e outros moradores do Brejo; a petição solicitava ao Imperador D. Pedro I que fosse elevada a categoria de Vila o referido povoado. Os pedidos, contudo não foram acolhidos devido à dissolução da assembleia.[21][22]
No ano seguinte, o revolucionário António Joaquim de Mello se achava foragido no Brejo da Madre de Deus, na ocasião ele escreveu "Os Cahetés: Cantata Nacional", a canção ficou conhecida como: o Hino da Confederação do Equador.[23][24] No dia 3 de Outubro de 1824 o Frei Caneca, Líder da Confederação, levantou acampamento próximo ao então povoado do Brejo no episódio da fuga que ele empreendeu, junto de seus companheiros, pelo interior de Pernambuco.[25]
Em 1825 e em 1831 os moradores da povoação do Brejo dirigiram requerimentos ao Presidente da Província e ao Conselho Geral da Província, pedindo a criação da Vila, os pedidos não foram exitosos. Em 1833 dirigem-se novamente ao mesmo Conselho, fazendo igual pedido, e finalmente foram atendidos.
A povoação do Brejo da Madre de Deus, foi elevada à categoria de vila em 20 de maio de 1833, constituindo-se em sede do município de igual nome, desmembrado do município de Cimbres (atual município de Pesqueira) que já era sede municipal desde 3 de abril de 1762.
A Vila foi devidamente instalada pelo cel. Pantaleão de Siqueira Cavalcanti, então presidente da Câmara de Cimbres, no dia 26 de outubro de 1833, sendo os seus primeiros Vereadores: Tomás Alves Maciel, João Lúcio da Silva, Antônio Francisco Cordeiro de Carvalho, José Pedro de Miranda Henriques, Simeão Coreia de Albuquerque, o Padre Luís Carlos Coelho da Silva e João José Velho, os quais, deferido o competente juramento, entraram logo em exercício, funcionando a Câmara de Vereadores em um prédio localizado na Rua das Laranjeiras, em frente ao local foi erguido o pelourinho.
Constava então a Vila de oito ruas e dois pátios, com cerca de cem prédios, e tinha uma Escola Primária com aulas de latim e de francês, ministradas pelo padre Pedro Marinho Falcão.[26]
O Bispo de Olinda Dom João da Purificação Marques Perdigão visitou o Brejo em 1836, ele esteve na localidade entre os dias 23 de Novembro e 1° de Dezembro daquele ano; em seu relatório questionou a falta de cuidado do padre Pedro Marinho Falcão com a conservação da Igreja Matriz, o sacerdote mostrou ainda uma preocupação com o grande número de casais que viviam em concubinato. O Bispo crismou durante a visita cerca de 2000 pessoas e celebrou missas tanto na Igreja Matriz quanto na capela de Nossa Senhora da Conceição (Atual co-Matriz do Bom Conselho).[27]
Por decisão do Conselho da Província, em 1833 foi criada a comarca do Brejo da Madre de Deus (desmembrada da Comarca de Flores), sendo instalada em 22 de outubro do mesmo ano, tendo como primeiro Juiz de Direito o Dr. João José Teixeira da Costa. É classificada comarca de primeira entrância pelos decretos números 687 de 1850 e 5139 de 13 de novembro de 1872.[28] Em 1841 Jerônimo Martiniano Figueira de Melo ocupou cargo de juiz da comarca, posteriormente ele foi ministro do Supremo Tribunal de Justiça e senador do Império.[29] O cargo de juiz do Brejo foi exercido também por Antônio Epaminondas de Barros Correia, que mais tarde se tornou governador de Pernambuco.
Durante a primeira metade do século XIX o Brejo foi um lugar bastante rico e muito povoado, contudo a prosperidade foi se diluindo, em parte graças as secas frequentes, cabe destacar a Grande estiagem que durou de 1877 até 1879; que fizeram declinar consideravelmente as fontes de receita do município enfraquecendo grandemente a pecuária e a agricultura além de matar inúmeras pessoas.[30][31]
O Brejo teve o predicamento de cidade - cronologicamente a 11ª em Pernambuco - em virtude da Lei Provincial nº 1.327, de 4 de fevereiro de 1879.
Com a criação de novos municípios pela Lei Estadual nº 1.931, de 11 de setembro de 1928, o município de Brejo da Madre de Deus perdeu os distritos de Belo Jardim, Serra dos Ventos e Aldeia Velha (atual Xucuru), que passaram a construir um novo município: Belo Jardim. Voltando a cidade do Brejo da Madre de Deus ser sede municipal, condição que havia perdido para Belo Jardim desde 1924.
Pelo decreto-lei estadual nº 235, de 9 de dezembro de 1938, o município de Brejo da Madre de Deus passou a denominar-se simplesmente Madre de Deus. Pela lei estadual nº 421, de 31 de dezembro de 1948, o município de Madre de Deus voltou a denominar-se Brejo da Madre de Deus.
Pela lei estadual nº 3333, de 31 de Dezembro de 1958, o distrito de Jataúba é elevado à categoria de município. Entretanto, o governador do estado vetou esta elevação. O veto foi derrubado pelo STF. O Brejo então foi desmembrado novamente, perdendo o distrito de Jataúba, que em 2 de março de 1962 passou a ser um município autônomo.[32]
Geografia
Com altitude de 636 metros, o município se localiza à latitude 08°08'45" sul e à longitude 36°22'16" oeste. Sua população estimada em 2021 era de 51 696 habitantes, distribuídos em 762,35 km² de área.
Compõem-no cinco distritos: Brejo da Madre de Deus (sede), Barra do Farias, Fazenda Nova, Mandaçaia e São Domingos.[33]
Está localizado no Planalto da Borborema, numa altitude média de 636 m. De acordo com o IBGE, o município detém o cume mais alto do estado de Pernambuco, o Pico da Boa Vista, que fica localizado na Serra do Ponto, cuja altitude chega a 1.195 metros acima do nível do mar.[34]
A vegetação predominante é a caatinga hiperxerófila, apresenta também mata atlântica nas partes mais altas do município. O município encontra-se na bacia do Rio Capibaribe. Os principais açudes da cidade são: Machado (1.228.340m³) e Oitís (3.020.159m³).
Segundo a contagem do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2010, o município possuía 45 180 habitantes, sendo a maioria do sexo feminino, com 23 000 habitantes mulheres, e os 22 180 restantes do sexo masculino. Ainda segundo o censo, 35 124 habitantes viviam na zona urbana e 10 056 habitantes na zona rural.[36]
No censo seguinte ocorrido em 1890 a população do município era de 20 514 habitantes; sendo 13 655 pessoas na paróquia de São José do Brejo, 4 493 pessoas na paróquia de Nossa Senhora do Belo Jardim e 2 366 habitantes na paróquia de Santo António de Jacarará.[38][39] O município tinha, em 1890, sete distritos: São José do Brejo, Jurema, Mandaçaia, Santo Antonio de Jacarará, Santa Cruz, Serra do Vento, Caropotós.[40]
No censo de 1920 o município possuía 48 784 habitantes; a nomenclatura "paróquia" foi substituída pela palavra "distrito", sendo 10 154 residentes em Brejo, 7 880 no distrito de Serra dos Ventos, 14 126 no distrito de Belo Jardim, 7 250 no distrito de Jatobá, 5 137 no distrito de Mandaçaia e 4 237 no distrito de Aldeia Velha.[41]
No censo de 1940 além de perder os distritos de Belo Jardim, Serra dos Ventos e Aldeia Velha, o município mudou de nome, passou a se chamar Madre de Deus, naquele ano possuía 29 131 habitantes; sendo 15 255 na sede, 10 245 no distrito de Jatobá e 3 631 no distrito de Fazenda Nova.[42]
No censo de 1950 o município volta a se chamar Brejo da Madre de Deus, eram 35 459 habitantes, sendo 17 261 homens e 18 198 mulheres, sendo 19 803 pessoas em Brejo, 12 559 habitantes no distrito de Jataúba e 3 097 residentes no distrito de Fazenda Nova.[43][44][45][46]
Considerado o maior teatro ao ar livre do mundo, Nova Jerusalém atrai mais de 3,5 milhões de turistas à cidade. No teatro é encenada "A paixão de Cristo". O teatro é cercado por enormes muralhas e com nove cenários, que com sua grandiosidade se torna o maior espetáculo ao ar livre do mundo. O espetáculo teve origem nas ruas do distrito de fazenda Nova, em 1951, por Epaminondas Mendonça, e os figurantes do espetáculo eram os próprios moradores do distrito.[48]
Seus cenários buscam representar uma reconstrução da cidade de Jerusalém nos tempos em que viveu Jesus. Seu projeto foi idealizado e construído por Plínio Pacheco em 1956, concluído somente em 1968. Todos os anos, durante a Semana Santa, realiza-se o popular espetáculo "Paixão de Cristo de Nova Jerusalém". Participam dessa encenação cerca de 500 pessoas, entre atores de expressão nacional, atores regionais e figurantes.
Considerado o maior teatro a céu aberto do mundo, com 100.000m², o espaço conta com lagos artificiais, nove palcos, uma muralha de 3.500 m de pedras com 9 metros de altura e 70 torres. Sua área equivale a um terço da Jerusalém da época de Jesus.
Parque das Esculturas Monumentais Nilo Coelho
A aproximadamente dois quilômetros do teatro fica o Parque das Esculturas Nilo Coelho, um espaço de 70 hectares dedicado à natureza e à cultura. Parque retrata as figuras do nordeste por meio de esculturas feitas em pedra granítica, algumas medindo até 7 metros de altura.[49]
O Brejo conta ainda com o Museu Histórico instalado num sobrado construído em 1854 na Rua de São José, número 46.[55] O sobrado de dois pavimentos dispõe de oito compartimentos no térreo, cinco compartimentos no primeiro andar e é revestido de azulejos portugueses; a construção é atribuída ao engenheiro pernambucano José do Rego Couto Maciel. Durante boa parte do século XX o proprietário do prédio foi o comerciante Alípio Magalhães da Silva Porto, que na década de 1970 autorizou que o sobrado fosse transformado no museu local.[56] O espaço foi fundado, pela brejense Dulce de Souza Pinto, em fevereiro de 1977.[57] Com o apoio da população local, foi reunido um riquíssimo acervo de aproximadamente mil e duzentas peças, incluindo mobiliário, armaria, arte sacra, utensílios domésticos, instrumentos de suplício, fotografias, documentos, artefatos tecnológicos de uso cotidiano e material etnográfico indígena; que ajudam a contar parte da história do Brasil desde o período pré-colonial até os nossos dias.[58] Recebeu inicialmente o nome de "Museu Sobrado Colonial" e, a partir de 1991, tornou-se o "Museu Histórico do Brejo da Madre de Deus".[59] Trata-se do único museu do interior de Pernambuco montado nos padrões museológicos e o único a dispor de acervos arqueológicos e paleontológicos resgatados em pesquisas no município, realizadas pela Universidade Católica de Pernambuco.[60][61]
Entre as igrejas, a Matriz de São José se mostra imponente na paisagem, localizada num ponto alto da cidade e construída em 1792 em estilo barroco, a igreja foi reconstruída em 1853, aumentada em 1858 e novamente outras vezes durante o século XX. Há também a Capela da Mãe Rainha construída em novembro de 1990, situada no alto de uma colina onde se tem uma bela visão panorâmica da localidade. A Igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho (localizada na praça de mesmo nome) já existia desde as primeiras décadas do século XIX, porém era dedicada a Nossa Senhora da Conceição [26][27], a capela foi transformada em igreja no começo da década de 1850, as obras só foram concluídas em 1868, e reformada no início da década de 1950 pelo Cônego António Duarte Cavalcanti, o mesmo que escreveu a letra do hino da cidade.
O fator geográfico também atrai turistas o ano todo à cidade. A Serra do Ponto tem uma das mais belas vistas do estado de Pernambuco. De acordo com o IBGE, ela detém o cume mais alto de Pernambuco, o Pico da Boa Vista, cuja altitude chega a 1.195 metros acima do nível do mar.[34]
A Mata do Bitury, com uma fauna diversificada e resquícios de Mata Atlântica, tendo uma área de 700 hectares, faz com que os amantes dos esportes radicais sempre estejam em contato com a natureza, sendo a floresta localizada há 1.050 metros acima do nível do mar.
Economia
A atividade econômica predominante é a sulanca (como é chamada a atividade têxtil, na região) que emprega maioria da população do município. No distrito sede é grande o número de agricultores e trabalhadores do setor de serviços, destaca-se também o uso e a adaptação do toyota bandeirante um dos símbolos da cidade[64][65]. No distrito de Fazenda Nova o setor de turismo é o que predomina através da localização do Teatro de Nova Jerusalém. No distrito de São Domingos o setor predominante é o da Sulanca devido a proximidade com a cidade de Santa Cruz do Capibaribe, que é o polo nacional desse tipo de confecção.[66][67]
Personalidades
São naturais do Brejo da Madre de Deus figuras Históricas como:
Cônego Francisco Rochael Pereira de Brito Medeiros, deputado provincial por várias legislaturas. Durante o Império, era o líder do Partido Liberal na região. Foi o primeiro Regedor do Ginásio Pernambucano, exerceu o cargo entre 1870 e 1878.
José Caetano de Medeiros, Capitão de Milícias adepto da Revolução Pernambucana de 1817, devido ao seu envolvimento nessa conjuração ele foi preso. Recebendo a liberdade em 6 de Fevereiro de 1818, através do perdão régio. Anos depois ele foi eleito para o cargo de Vereador na Câmara Municipal do Brejo da Madre de Deus.
↑«Estimativa populacional 2022 IBGE». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 25 de dezembro de 2022. Consultado em 12 de janeiro de 2023
↑"Offício ao Cidadão Governador do Estado de Pernambuco em 22 de agosto de 1890." Transcrito do Livro de Registro de Correspondência da Câmara do Brejo, fls. 178/179 verso, pertencente ao Museu Histórico do Brejo.
↑"Ao Illmº. e Exmº. Snr. Dr. Bevenuto Augusto de Magalhães Taques em 23 de Janeiro de 1858" Fls. 156 do Livro de Correspondências Recebidas e Expedidas da Câmara do Brejo da Madre de Deus-PE. Pertencente ao Museu Histórico do Brejo.
↑«Cidades | IBGE». cidades.ibge.gov.br. Consultado em 2 de janeiro de 2017
↑«Recenseamento do Brazil. Realizado 1920». População do Brazil por Estados, municipios e districtos, segundo o sexo, o estado civil e a nacionalidade. Ministerio da Agricultura, Industria e Commercio. Directoria Geral de Estatística. 1926. Consultado em 6 de maio de 2016
↑«Recenseamento Geral do Brasil 1940». Censo Demográfico. População e Habitação. Quadros de totais referentes ao Estado e de distribuição segundo os municípios. IBGE: Serviço Nacional de Recenseamento. 1950. Consultado em 6 de maio de 2016